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domingo, 14 de setembro de 2008

Transformar o amanhã (Tânia Du Bois)



Transformar o amanhã é desembrulhar o livro “Neste Embrulho de Nós”, vencedor do III Prêmio Literário, Livraria Asabeça, Categoria Poesias.
Marco Aqueiva é um poeta especial que nos permite penetrar na força da poesia; tem a capacidade de revolucionar as palavras e de desamarrar a linguagem: “... sem nós me turvo/cascalhando este outro engulho de nós...”.
Ele “desamarra as tramas do impreciso humano”, isto é, nos desperta para um mundo de novos significados.

“... Verão, ao sol do meio dia, corpo
gravando em rubro intenso sua nudez
no asfalto que, bufando violento,
vera escrita registra sem disfarces..

...

- ó Leitor, fado sensual tuas farpas!”

O Leitor, ao lado do poeta, é incentivado a desbravar caminhos sem medo de assumir a sua poesia; a sua criação, seja ela polêmica ou não.

“Não ao inferno na companhia das letras
Outra estação assegurada aos olhos
E se convenha a ti estes meus sonhos
Paisagem em pulsão impermanente...”

O livro mergulha na essência de transformar as palavras como se vestisse a “camiseta” defendendo a literatura, como manifesto que defende a poesia; leva a acreditar que mudanças são necessárias e a perceber traços de vida e esperança num universo de valores únicos. Como se vestíssemos a “camiseta” o tempo todo e fôssemos transformando a “nós” e a tudo o que está em nossa volta.

“... Em pasto de palavras transforma-se,
Se há merenda aos teus olhos, omelete
A um morto acasalando com fantasmas, ...”.

A sua poesia mais do que informa, transforma. Poesia é Marco Aqueiva. Seu talento e sua obra abrem caminhos para todos “nós” e é inspiração para o futuro. “Boné sem camiseta, outro assédio?...”.
Em “Neste Embrulho de Nós”, pura literatura, Marco Aqueiva mostra a força que possui, capaz de revelar e transformar o amanhã.

Tânia Du Bois, pedagoga. Itapema, SC. Crônicas publicadas em sites e blogs. E-mail: taniardubois@gmail.com
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sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Noite de Natal (Ailton Maciel)



A noite em minha terra é como o rio:
Vai passando o luar, vai suspirando;
Ora um roncar no alto se espalhando;
Ora um soprar do vento denso e frio!

Não vacila ou reflete num desvio:
Prossegue calma, triste, despejando
O orvalho que do céu vem derivando
À conquista dum peito doentio!

Além voa um ......................... lamento*
De algum amor vadio e penitente;
Chora o luar em lágrimas, demente.

... E na calma do amor, do sofrimento,
Olhos que choram, riem transfundindo
O amor da natureza refletindo!

Fortaleza, 17/5/58
* Não foi possível ler, nos originais, a palavra que antecede "lamento".
Ailton Maciel deixou alguns inéditos. Ailton Alves Maciel (nome completo) nasceu em Baturité, Ceará, em 7 de março de 1943. Em vida nada publicou, embora tenha escrito inúmeros poemas, romances e contos. Sua obra mais importante desapareceu. Talvez no incêndio doméstico que quase o matou, em Brasília, onde foi viver (e morrer) no início dos anos 1970. Sua morte clínica se deu no dia 22 de outubro de 1974. Apenas quatro contos se salvaram: "Santa Caçada", "O Touro", "O Careca" e "O Presente da Professora", publicado na revista Literatura n.º 24, de 2003. Outros onze fragmentos encontrados podem ser de contos e romances.
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