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quarta-feira, 8 de abril de 2009

Ruínas (Ailton Maciel)



Meu Próximo, medita em mais: talvez, até,
Lá para o diante, se hoje o punho ultriz levantas.
Verme - talvez alguém te esmague a ti com o pé!

(Júlio Maciel, "Do homem ao verme")

Sinto em mim a dirupção do meu viver,
e da calma que guia e me conduz
no duro labirinto do sofrer,
morre em mim a doçura, a vida, a luz!

Prazer não sinto, nada me seduz,
impassível estou ao padecer,
vendo, dia a dia, aumentar a cruz
que à vida rouba todo seu prazer!

Que importa tudo: – a luz, o ouro ou a glória,
o fracasso, a desonra ou a vitória;
pó, só pó, é afinal, o que somos!

... E quando à vida a esperança roube o mundo
ou a morte venha, só por um segundo
deixamos de ser tudo e o mais que fomos!

Fortaleza, 26/2/65
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segunda-feira, 6 de abril de 2009

José Daniel, rival de Bocage (Adelto Gonçalves)



I
Ao contrário do que muitos imaginam, ao final do século 18, em Lisboa, não eram de Bocage os versos que mais se repetiam na boca dos cultores de poesia. Pelo menos entre aqueles que cultuavam uma espécie de poesia mais popular, senão chocarreira. Não é que Bocage não tenha pago o seu preço ao duvidoso gosto da época — e o fez com abundância, com versos que, mais tarde, lhe garantiriam um lugar de destaque entre autores fesceninos que seriam procurados com outros propósitos que não o de reverenciar a qualidade do poema —, mas é que a maioria de suas composições — digamos assim — mais sérias não atraía esse tipo de gente que freqüentava tascas e casas de pasto nos arredores do Rossio.