A verve experimentalista de Nilto Maciel confirma-se através da leitura do primeiro volume de seus Contos reunidos (Bestiário, 2009), que reúne os textos publicados nos livros Itinerário (1974/1990), Tempos de mula preta (1981/2000) e Punhalzinho cravado de ódio (1986). Autor prolífico e multifacetado, entre os méritos de Nilto está uma incansável disposição para repensar sua própria produção literária, algo que já pode ser percebido nesses primeiros textos – entre os quais merecem destaque o forte “Punhalzinho cravado de ódio”, o patético “Detalhes interessantes da vida de Umzim” e o bem urdido “Tadeu e a mariposa”.
Extraindo seus motivos de temas históricos, regionalistas ou fantásticos – não sendo incomum a mescla de elementos oriundos desses diversos campos –, Nilto Maciel é o tipo de escritor que resiste a rótulos e a categorizações. Transparece nesse pluralismo um pendor fundamentalmente comprometido com o próprio exercício da escrita: é esse um autor para quem a criação literária é uma forma de organizar e questionar o real – conquanto esse termo, no vocabulário do autor cearense, seja de difícil definição.
Reunindo os primórdios da obra de uma importante figura das letras brasileiras contemporâneas – sobretudo por sua atitude democrática, justamente destacada pela prefaciadora Liana Aragão, que por longos anos materializou-se na revista Literatura – , Contos reunidos de Nilto Maciel vem, em boa hora, ocupar um espaço de valor em nossas estantes: aquele lugar destinado às obras dos que, além de criadores, são também fomentadores da cultura brasileira.
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