(Inocêncio de Melo Filho)
Ofício
Perco-me entre palavras
E sílabas inquietas.
Quando volto a mim
Sinto-me abatido.
Tu me chamas, fecho o livro,
Nego-te os ouvidos...
Sólio
Este trono de merda é só meu
Trono fétido por natureza,
Se é que tem natureza o objeto de sua constituição...
É nele que faço minhas leituras
É nele que busco palavras
É nele que busco poemas
É nele que cago e mijo.
Este trono de merda é só meu
Não o divido com ninguém
Comprei-o com meu próprio dinheiro
Finquei-o à terra usando minhas forças
Trono plebeu!
Trono fétido!
Trono verde indivisível...
Defesa
Eu sou inofensivo, senhores,
Trago enigmas fatigados nas mãos
E fartos cabelos brancos na cabeça.
Minhas pálpebras estão exaustas
E o meu olhar nega-se a contemplar
Esse mundo caduco.
Este céu que nos cobre causa-me tédio.
Mas ainda há palavras em minha boca, posso feri-los
Posso jogá-las no vácuo ou aprisioná-las
Entre as unhas.
Senhores, sou inofensivo,
Verbalizar sentimentos não significa
Um ataque,
Concretiza o medo que se faz defesa.
Insulto
Que fique na tua boca
O meu hálito fétido
Como resposta
Aos teus insultos...
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