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quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Vazio (Ronaldo Monte)

Já disseram antes de mim, mas é como estivesse dizendo pela primeira vez: na medida em que envelhecemos, o mundo vai ficando cada vez mais vazio. Cada morte de um amigo nos deixa uma parte do mundo em escombros, como a explosão de um obus. Hoje, meu mundo ficou mais vazio. Mais um pedaço de sua construção ficou em ruínas. Morreu Luís Martinho Maia. Maia será lembrado por muitos pelo mestre que formou gerações de psicanalistas na Paraíba. Será lembrado por muitos dos que beberam de sua sabedoria nas salas de aula do Departamento de Psicologia da UFPB. Mas só os que provaram da sua amizade poderão avaliar o verdadeiro sentido da sua perda. Cada um, certamente, se lembrará com carinho de um ou muitos momentos de intimidade com o Maia. Eu tenho muitos momentos desses gravados na memória. Um deles, porém, me volta sempre à lembrança, como a maior oferta de cuidado que se possa receber de um amigo. Eu e Glória tínhamos perdido um filho com três anos e meio de idade. Foram muitos os amigos que cuidaram de nós nesse momento de franco desespero. Mas foi o Maia que fez por nós o que a dor nos impedia de fazer. Ele estava em nossa casa e acompanhou todo o nosso esforço em acalmar e botar para dormir o nosso filho mais novo. Então, ele tomou o menino nos braços, foi com ele para a calçada e lá ficou até que o nosso filho parou de chorar e dormiu. É esta lembrança que me enche os olhos de lágrimas agora, em que tento escrever esta homenagem ao amigo morto. É esta lembrança que torna o meu mundo menos vazio, mesmo com o desaparecimento do amigo. E será esta lembrança que me salvará todas as vezes em que eu me sentir vazio de amigos.
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terça-feira, 9 de novembro de 2010

Sou meu próprio algoz

Conversa de Nilto Maciel com Cláudio B. Carlos (CC)

(Cláudio B. Carlos)


Conheço (virtualmente) Cláudio B. Carlos (CC) há poucos dias. Ele vive no extremo sul do Brasil, Santa Cruz do Sul, centro do Rio Grande do Sul. Eu, em Fortaleza, nordeste brasileiro. Conhecemo-nos porque somos escritores e temos acesso à Internet. Há alguns anos, talvez não fosse possível esta entrevista. Em 17 de outubro deste ano ele me mandou um e-mail (o que deve ter feito a outras dezenas de pessoas), para se apresentar: Estou no blog “Jamé Vu” (site criado e editado por Homero Gomes) e gostaria de ser lido por você. E se desculpava por se mostrar, sem ser conhecido: “Nem é por mim que envio, mas pelo site (que é ótimo e vale a pena)”. Senti-me curioso do blog, pelo nome. Li o conto dele: “Um arado rasgando a carne”. Fiquei fascinado. A partir daí, não mais deixamos de conversar. E lhe propus uma entrevista à distância. Quis entrevistá-lo exatamente porque não o conhecia, nunca tinha ouvido falar o seu nome, e acredito ser ele um desconhecido da maioria dos leitores brasileiros de prosa de ficção e poesia. E porque quero ser diferente dos outros entrevistadores. Afinal, não sou jornalista, não trabalho como jornalista e tudo o que escrevi e escrevo é apenas para ser lido.