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domingo, 21 de novembro de 2010

Prima Notturna (Valdemar Neto Terceiro)

http://infimoverde.blogspot.com/




(A morte de Sardanapalus, de Eugéne Delacroix)


Pois que o vinho seja amargo

E as ilusões, doces como o fel

Que me cai do teu vasto céu

Vindo de si o etéreo pecado;



Não mais! - deixa-me, fardo

Que me veio como doce mel

Do fundo e escuro olhar teu

Que tinha por mim, amado;



E guardo o sono derradeiro

Caído pelas vielas vis e nuas

Onde desgraço-me inteiro;



Pois que percam-me as ruas,

Lá, minh'alma clama ceifeiro

Por entre lembranças tuas.





Valdemar Neto Terceiro

Ipu, 15 de novembro de 2 mil e 10

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Um olhar (Ádlei Carvalho)

http://adleicarvalho.blogspot.com/


(Quadro de Chico Lopes)


Quero ainda algum tempo

Para cantar mais canções,

Contar mais estrelas,

Plantar mais flores

No coração,

Trilhar mais versos,

Romper barreiras,

Distribuir outros sorrisos,

Reler “O Pequeno Príncipe”,

Respirar mais verdes

E verdades,

Multiplicar afetos.



Tempo para aprender a olhar

Além dos outros olhos,

A estender incondicionalmente as mãos,

A ouvir mais que dizer,

A sofrer sem murmúrios

E seguir adiante.



Tempo para beijar a minha mãe,

Amar a minha mulher,

Abraçar meus irmãos,

Orar a Deus por meu pai.



Tempo para galgar degraus,

Subir em árvores

E montanhas,

Sentir a brisa,

Correr descalço,

Ouvir um samba

De Chico Buarque,

Aprender a dançar tango.



E quando eu me for

E o tempo já não fizer sentido,

Quero saber que tudo

O que vivi e desejei ter vivido

Não durou mais que o instante

De um olhar.
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