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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A última revolta de Jesus Cristo (Rogers Silva)

(baseado numa história que tudo indica ser real)



Para Sinvaldo Jr,
que sempre achou que Jesus deveria ter morrido por algo melhor.

Doía, muito doía, e não havia nada que pudesse fazer para estancar o sangue, que escorria. A impotência doía. Doía e não enxergavam, não viam – ou não queriam ver? Doía e não era dor pouca, pois em todos os momentos se vira sozinho, todos desapareciam, sua única companhia era o desgosto, era. As aves no céu voavam indiferentes. E doía. Agora percebia enfim que doía, e não só percebia como sentia agora todas as dores passadas, agora. A solidão. A ausência machucava, doía. A ferida aberta, e os vermes vindouros. As mãos doíam, e muito. As pernas doíam, e muito. O tronco doía, muito. A flechada, os cuspes, a coroa, os espinhos – tudo doía. Os sarcasmos feriam, e doía. Os risos. Os socos tão-somente nesse instante sentia, e doíam, como socos dados em vão, porque em vão foram. Apenas serviram para aumentar a dor. A hostilidade. Valeria o sacrifício, valeria? O sol quente. O céu claro. A vontade de urinar doía. Os rins doíam, sobretudo. O suor que sujo escorria. O sal. O fel. O mau hálito.

Tristeza de escritor (Francisco Miguel de Moura*)

(Poema colhido em Revista Cirandinha: ver link ao lado)

(O poeta e a solidão)


quis recolher as emoções mais raras

de ternura, de amor, nos livros meus.

escrevi-as nos dias - noites claras -

nas caladas da vida, o' santo deus!


chorei dores daquelas sem aparas,

como sofrem, sem culpa, tantos réus

vivi vidas sem nome, de tão caras

como suster a fé entre os incréus.


tanto trabalho e tanta luta em vão!

frutos virgens apanho em meu declive

e ofereço aos que passam. nem se dão...


por tudo, uma palavra nunca tive,

nem de consolo nem de compaixão.

tristezas de escritor só ele vive.

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