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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Feliz solstício (Manuel Soares Bulcão Neto)




"No lado de cima do Equador, o solstício de inverno é o dia com a noite mais longa do ano"

Natal é festa de confraternização cristã. Embora agnóstico, não sou bitolado: valorizo algumas tradições sociais, de modo que, quando convidado para uma ceia natalina, compareço. Da última vez, porém, na casa de um amigo, tive aborrecimentos. Pois, logo que cheguei, um dos presentes – católico praticante e litigante – abordou-me: "Ei você! O que veio comemorar aqui?". Enquanto a empadinha descia arestosa, respostei: "O solstício de inverno do hemisfério norte". O sujeito fez cara de desentendido. Então, expliquei sucintamente.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Os bichos, a palha (Ronaldo Monte)



Não importa se é mito, não importa se é fato. Crente ou descrente, nenhum membro da cultura ocidental pode ficar alheio à figura do Cristo. Principalmente às imagens estabelecidas como o princípio e o fim da sua vida terrena. Dispensemos, por hora, a imagem da solidão e do sofrimento do Calvário. Vamos ficar com a imagem da origem, aquela cena simples do menino deitado na palha, velado pelos bichos, sob os olhos dos pais. Não precisamos de nenhum recurso à divindade para compreender o que tal cena nos quer dizer. Ali está representado, ao mesmo tempo, todo o desamparo humano e as possibilidades da sua reparação.

A marca do humano é o desamparo. Somos lançados prematuramente no mundo, antes que tenhamos alcançado o nível de desenvolvimento suficiente para fazer o que qualquer mamífero consegue: erguer-se sobre as patas e buscar o peito da mãe. Deixado às suas próprias custas, o ser humano não vinga. Para isto estão ali o pai e a mãe do menino. Para fazer por ele o que o seu desvalimento não permite. Mas o que representam, então, a manjedoura e sua palha, os animais e seu silêncio? Cada um de nós pode tentar sua própria interpretação. Para mim, a pobreza do cenário serve para dizer que não se precisa de muito para estar no mundo. Para o frio da noite do deserto, está ali o calor da palha. Para as tentações do poder dos homens, ali está a humildade dos bichos.

O menino vai crescer, vai deixar seus pais, vai correr o mundo pregando uma mensagem até hoje incompreendida. E quanto mais longe estiver deste cenário de origem, quanto mais certeza tiver da sua divindade, mais perto estará da imagem final da solidão e do sofrimento. Por isso, a cada ano, devemos nos lembrar que para sermos solidários em nosso desamparo de humanos, precisamos guardar em nós o calor da palha, a humildade dos bichos.

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