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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Palavra: poesia (Tânia Du Bois)


Concordo quando Chico Buarque disse que “agora posso cuidar da poesia”, pois, ela trata a palavra em seu momento mais inspirado, no inteligente jogo de significado e significante.

O brasileiro desvenda os segredos das palavras através da poesia, comunicando-se com a linguagem da liberdade, podendo criar novos ideais, voar, sonhar e até mesmo vivenciá-la.

POESIA É VIDA! Ela nos brinda com palavras mágicas. Então, pergunto: qual é o segredo que elas guardam? Lêdo Ivo responde: “A poesia é um segredo / feito de êxtase e medo / que não confio a ninguém – nem a mim mesmo".

E como cada um de nós ao ler um poema sente esse segredo? Bem, magicamente, o inatingível torna-se palpável. De alguma forma participamos vivenciando momentos e emoções. Destacar a palavra “poesia” mostra a sua importância e como ela muda as nossas vidas, tornando-nos novos amantes da poesia.

Desejamos segredo maior que o contido nas expressões poéticas?

“... você foi o melhor dos meus erros //... você foi a mentira sincera /

... esqueci de tentar te esquecer.” (Outra Vez, de Isolda)

Sentir a energia que emana do relacionamento direto entre o escritor e a sua obra, do letrista com sua lírica, é algo imperdível para as pessoas de sensibilidade.

Como escreveu o poeta Ferreira Gullar, “... pretendo que a poesia tenha a virtude de, em meio ao sofrimento e ao desamparo, acender uma luz qualquer”. E Jorge Luis Borges arremata que “a poesia não é alheia, a poesia está logo ali, a espreita. Pode saltar sobre nós a qualquer instante. E a vida, tenho certeza, é feita de poesia.”

Poesia é descobrir a essência mágica das palavras. A linguagem como significado, como expressões que avessas ao poema destacam o fascínio do código em si. Seu ingrediente fundamental é despertar nossa atenção para ser explorada em papel literário e transformada em magia.

Encontro em Edson Cruz: “... vendo o escritor não como construtor, mas como colecionador que se comunica com o mundo ao conquistar sua coleção de palavras”.

Assim, os temas viram releituras, na medida para os amantes da poesia, como em Pedro Du Bois:

“Poesia de palavras simples / rimas simples: / expressa sentimentos

explora sentimentos / sente / o fazer feliz / deixar feliz. // Poesia de

palavras certas / em seus significados...”

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domingo, 9 de janeiro de 2011

Identidade (Ádlei Carvalho)



Sou uma soma disforme


De minhas próprias migalhas,


O sumo de todas as lutas,


Resto de muitas batalhas,


Mas trago sonhos nas mãos.


Não contornei desafios.


Vim engolindo as pedras,


Sorvendo os pântanos,


Devorando os montes


Que me surgiram.


Nada ficou no caminho:


Tudo virou identidade.


Só vejo com clareza o que fui.


Assento ainda os tijolos de hoje


E é inútil ter pressa.


Se ontem soubesse o que sei,


Apenas saberia agora


O que amanhã saberei,


No mesmo ciclo:


Criar-se e recriar-se


Sem fim.


Tenho os pés afoitos


E caminhar cauteloso:


Um passo atrás da certeza,


Outro adiante de mim.




Lanço o olhar aventureiro à frente


E reconheço-me no retrovisor.


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