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sábado, 15 de janeiro de 2011

Noite com sátiros e bacantes (Nilto Maciel)



Nunca tive sonhos de doido. Não viajo ao Kilimanjaro nem me encontro com Jesus de Nazaré. Não enfrento leões nem me abraço com Salomé. Sou normal, tenho sonhos de funcionário público bem remunerado: passeio de carro novo, família numerosa e sadia, algum voo entre estrelas de quinta categoria, divertimento com beldades de Hollywood. Hoje, porém, sonhei com Pedro Salgueiro e Dimas Carvalho. Ora, dirão os leitores: Onde está a loucura? Todo escritor sonha com dois ou mais escritores. E ninguém vê nisso sandice. Muitos veem, isto sim, latente homossexualismo. A insânia está, meus amigos, no tempo e no espaço da história. Éramos romanos ou, se não tanto, cearenses em visita a Roma. Não a Roma de Silvio Berlusconi e Bento XVI, ou Benedictus XVI ou o alemão Joseph Ratzinger. Estávamos nos primeiros anos da era cristã. O Rex Iudaeorum tinham crucificado havia pouco tempo. Dominava o mundo o Big Brother Tibério. E Dimas dava explicações minuciosas: Não o chamem simplesmente de Tibério. O nome completo é Tibério Júlio César Augusto. A brincar, Pedro saiu a dar pulinhos e a gritar: “Morra, Tibério!” Um centurião, com cara de Benito Mussolini, seguido de 100 soldados, passava ao largo. Apavorado, Dimas balbuciou: Plínio, o Velho, o chamou de “tristissimus hominum”.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Crônica Desamada (Raymundo Netto*)



Eu que não ando só, mas somente em boa companhia, dava fecho à noite de segunda, numa boêmia sem razão de ser, no sempre Assis da Gentilândia, a conversar fiadamente sobre futebol, política e nosso cancioneiro com Vinícius de Morais e o irmão da Ana de Hollanda, ambos pilequeados sob véu cinzento da fumaça de cigarros. Vinícius, flagrando meu constrangedor desinteresse sobre tais coisas externas à alma, vessou o ar e apontou a contenda ao tema de sua predileção: a especialidade no exercício penitente do amar.