Dos estudos sobre João Cabral de Melo Neto é lícito asseverar que por baixo da sua ponte poética muitas águas já passaram e, nada há que indique alguma corrente contrária, muita água ainda passará, embora, para permanecer na figura de linguagem, águas cada vez mais rasas à medida que se afastam do seu nascedouro − leia-se, aquela meia dúzia de publicações seminais que deslindaram quase que in totum a poética do poeta pernambucano − dessa forma mais contribuindo para a extensão do que para a profundidade das análises. Entenda-se: é que João Cabral de Melo Neto valendo sozinho por toda uma escola literária − o que, em princípio, poder-se-ia dizer tratar-se de uma fonte de estudos quase inesgotável – teve a peculiaridade de escrever, em versos, um tratado de poética, da sua poética, no íntimo de muitos de seus poemas, deixando para seus exegetas, sobretudo, o trabalho de mapear, em sua obra, a concepção de linguagem poética inescapável à sua personalidade e, por extensão, as ferramentas estilísticas de que se valia para construir a sua poesia.