Certa crítica, se quiser de fato tornar-se contemporânea, deve reagir contra o distanciamento que cria entre si e as obras, quando paradoxalmente quer aproximar-se das mesmas com seus métodos. Lendo os contos do livro — sem maiúsculas — “vida cachorra”, de Mariel Reis, de imediato percebemos a simplicidade imprópria do método que alguns críticos consagraram à literatura que localizam nos subúrbios ou nas periferias. A análise majoritariamente feita (e malfeita) assevera que essa literatura é mimética. Para tais comentadores, a obra do autor espelha a sua realidade, devendo adequar-se a ela para ter sua fundamentação e embasamento. Uma concepção que, além de mutiladora, é irônica, posto que se uma obra não realiza por si o real, também o real — conclui-se — não poderia engendrá-la como obra sua. Não poderia ser, portanto, a base e o fundamento de sua adequação.