(Bulcão, o gordinho)
Numa noite de 2007, no bar do Assis, na Gentilândia, Pedro Salgueiro e eu bebíamos cerveja e falávamos da eterna e diária lengalenga de escritores que se acham gênios e, apesar disso, não conseguem, sequer, um lugarzinho nas chamadas antologias de poemas, contos ou crônicas. Trazida (pelo próprio Assis) a quarta garrafa, propus-me ir ao banheiro e, distraído, me ergui. No entanto, por um triz não volvi à posição de frequentador de boteco ou não tombei morto, tal o susto tomado: cercavam-me dois indivíduos corpulentos, risonhos e tagarelas. Boa noite, boa noite. Minha primeira sensação, logo desfeita, me lembrou a de vítimas de assalto. Salgueiro tratou de fazer as apresentações: Nilto, este é o contista Felipe Barroso; e este é o filósofo Manuel Bulcão. Como ando sempre a delirar com as palavras e os nomes próprios, imaginei ser Felipe sobrinho de Juarez Barroso, e o outro, neto de Soares Bulcão. Gerada a confusão, todos a falar ao mesmo tempo, ouvi (ou suponho ter ouvido) vagos elogios ao velho poeta cearense e à sua filha Florinda, a atriz. Vieram-me à lembrança cenas do filme Investigação sobre um cidadão acima de qualquer suspeita, a que assisti no Cine Diogo, se não me engano.