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terça-feira, 7 de junho de 2011

Manuel Bulcão e o tremeluzir das deusas (Nilto Maciel)



(Bulcão, o gordinho)

Numa noite de 2007, no bar do Assis, na Gentilândia, Pedro Salgueiro e eu bebíamos cerveja e falávamos da eterna e diária lengalenga de escritores que se acham gênios e, apesar disso, não conseguem, sequer, um lugarzinho nas chamadas antologias de poemas, contos ou crônicas. Trazida (pelo próprio Assis) a quarta garrafa, propus-me ir ao banheiro e, distraído, me ergui. No entanto, por um triz não volvi à posição de frequentador de boteco ou não tombei morto, tal o susto tomado: cercavam-me dois indivíduos corpulentos, risonhos e tagarelas. Boa noite, boa noite. Minha primeira sensação, logo desfeita, me lembrou a de vítimas de assalto. Salgueiro tratou de fazer as apresentações: Nilto, este é o contista Felipe Barroso; e este é o filósofo Manuel Bulcão. Como ando sempre a delirar com as palavras e os nomes próprios, imaginei ser Felipe sobrinho de Juarez Barroso, e o outro, neto de Soares Bulcão. Gerada a confusão, todos a falar ao mesmo tempo, ouvi (ou suponho ter ouvido) vagos elogios ao velho poeta cearense e à sua filha Florinda, a atriz. Vieram-me à lembrança cenas do filme Investigação sobre um cidadão acima de qualquer suspeita, a que assisti no Cine Diogo, se não me engano.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Olha só o Solha! (Ivo Barroso)

(Publicado originalmente no blog gavetadoivo.wordpress.com)

(W. J. Solha)


Já li e recomendo O relato de Prócula, desse homem dos sete (só?) instrumentos: poeta, romancista, jornalista, ator de teatro e cinema, pintor impressionista, expressionista e outros istas, autor de libretos de ópera, conhecedor profundo de cinema, seus astros diretores etc. – enfim, o factótum literário mais realizado que conheço: W. J. Solha. O livro é um conflito entre o sentimento religioso do padre Martinho e sua vocação carnal desenfreada. E a tese do porquê da defesa de Jesus por Pilatos, uma revelação até agora insuspeitada. Solha, paulista de Sorocaba, radicou-se em João Pessoa-PB, aumentando a valorização daquele território onde se pode encontrar o maior número de intelectuais por metro quadrado no Brasil. O livro tem profundidade ideológica, além de ser uma conquista estilística entre o sinfônico e o cordel, ganhador de uma bolsa da Funarte e finalista do prêmio Jabuti. Mas Solha é muito mais que isto: sua História Universal da Angústia escarafuncha as profundidades anímicas de Saul e Parsifal, de Édipo e de Hamlet, etc. fazendo deles personagens dialogáveis entre nós. Seu Trigal com corvos (prêmio João Cabral de 2005) é uma palheta transbordante de cores e de sons poéticos. O blog em que escreve, www.eltheatro.com, é um espetáculo de erudição pictórica. E vai por aí. Confiram.