(Nirton Venâncio)
Quando vivia em Brasília, quase nunca eu via Nirton. Após o meu regresso ao Ceará, estive com ele duas ou três vezes lá, e outro tanto aqui. Numa das vindas dele, marcamos encontro em hotel à beira-mar, onde se hospedavam cineastas, atores, atrizes, participantes de um festival de cinema aqui. Pus-me a andar pelo hall. Todos os sofás ocupados. Gente de todos os tipos para lá e para cá. Sentia-me um ser estranho. E era. Vontade de sair logo dali, ver pessoas comuns. Recostei-me a uma pilastra. Por que Nirton não aparecia logo? E apareceu. Fizemos as perguntas possíveis e necessárias. Entretanto, não podíamos conversar, tal a algazarra. Por que não vamos tomar uma água de coco? E saímos do hotel. Atravessamos a avenida e nos sentamos em cadeiras de uma barraca. Nirton se disse cansado e solitário. E com saudades do Ceará. Quero voltar, Nilto. Chupei o líquido do coco e vaticinei: Você não voltará. Ele se assustou e, como se o acusassem de crime hediondo, se defendeu: Preciso voltar. Quero viver o resto da vida aqui. Fui áspero: Não conseguirá. Por quê? Porque tem filhos. São crianças, sim, mas têm raízes, amigos. E, quando crescerem, serão pais. Isto é, você será avô. Estará irremediavelmente preso à terra onde eles nasceram e cresceram.