(leitura de um poema de Francisco Carvalho)
Retrato para ser visto de longe
(Pablo Picasso, Portrait d'homme barbu, 1895)
Retrato para ser visto de longe
Sou um ser, o outro é metade
que não sabe de onde veio.
Sou treva, sou claridade.
Solidão partida ao meio
e entre os dois a eternidade.
Sei quem sou, não me conheço.
Parado, estou sempre indo
para um país sem regresso.
Sou fonte e estou me esvaindo,
fluir sem fim nem começo.
Coração partido ao meio,
pulsando em cada metade.
O lirismo do espantalho
a espuma do devaneio.
Entre os dois a eternidade.
(de Pastoral dos Dias Maduros, 1977)