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sábado, 5 de novembro de 2011

Arkáditch, romance policial cult? (Nilto Maciel)





O primeiro livro de W. J. Solha que li deve ter sido A canga, sobre o qual escrevi (anos 70 ou 80) um comentário – “A lucidez possível” –, publicado em diversos jornais. Afastamo-nos durante um período (quem há de saber os motivos?). Devo ter perdido o endereço dele. Muito adiante, voltei a receber notícias e publicações dele: História universal da angústia, Relato de Prócula e, no outubro passado, Arkáditch. Há tempos ele me “falava” (por e-mail) dessa nova história: opiniões de amigos, recusas de editores, desilusões, etc. Tem confessado em particular e ao público: “Costumo dar meus originais – quando sinto que ainda não estão bons – a pessoas que respeito no ramo e que me sejam, evidentemente, acessíveis”. Também já fiz isso e muito me arrependi. Cada cabeça uma sentença. Se o escritor der ouvidos aos “leitores” de originais, jamais concluirá a obra. Chateado, Solha pensava até em desistir da publicação de Arkáditch, jogá-lo fora ou deixá-lo na gaveta. Talvez nunca o editasse. E se o mandasse para editoras? Mandou e se arrependeu ainda mais. As recusas foram tantas que deve ter pensado até em abandonar definitivamente o hábito de escrever.

A separação (João Soares Neto)



Tudo tinha sido mais rápido do que ela imaginara. Um casamento de 36 anos havia ido para o espaço como uma balão a gás que desaparece entre as nuvens. Não havia motivo específico. Um cansara do outro. Não gostavam mais de conversar, liam jornais diferentes, cada um comia do seu jeito sem hora marcada e o quarto de casal era só dela, com todas as fotos da família que não lhe davam mais prazer, nem anestesiavam a dor do filho quase imberbe morto na Guerra do Golfo Pérsico, um dos poucos americanos que voltara para casa em caixão de zinco coberto pela bandeira nacional.