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sábado, 5 de novembro de 2011

Arkáditch, romance policial cult? (Nilto Maciel)





O primeiro livro de W. J. Solha que li deve ter sido A canga, sobre o qual escrevi (anos 70 ou 80) um comentário – “A lucidez possível” –, publicado em diversos jornais. Afastamo-nos durante um período (quem há de saber os motivos?). Devo ter perdido o endereço dele. Muito adiante, voltei a receber notícias e publicações dele: História universal da angústia, Relato de Prócula e, no outubro passado, Arkáditch. Há tempos ele me “falava” (por e-mail) dessa nova história: opiniões de amigos, recusas de editores, desilusões, etc. Tem confessado em particular e ao público: “Costumo dar meus originais – quando sinto que ainda não estão bons – a pessoas que respeito no ramo e que me sejam, evidentemente, acessíveis”. Também já fiz isso e muito me arrependi. Cada cabeça uma sentença. Se o escritor der ouvidos aos “leitores” de originais, jamais concluirá a obra. Chateado, Solha pensava até em desistir da publicação de Arkáditch, jogá-lo fora ou deixá-lo na gaveta. Talvez nunca o editasse. E se o mandasse para editoras? Mandou e se arrependeu ainda mais. As recusas foram tantas que deve ter pensado até em abandonar definitivamente o hábito de escrever.
Arkáditch acontece no tempo do presidente Fernando Collor ou no período do impeachment. “Nas vinte e quatro horas em que este romance acontece, o povo sai às ruas com as caras pintadas pelo impeachment de Collor, em João Pessoa” (quarta capa). Num bilhete (divulgado na Internet) de Ivo Barroso ao romancista paulista-paraibano se lê: “você escreveu um belo romance policial cult, o que não é pouco, pois se trata de gênero difícil, mormente considerando que você introduziu nele a técnica do script cinematográfico, o que permite a visualização imediata das cenas e esconde, com o recurso dos cortes, o desenvolvimento linear da ação”. Sim, podemos assim qualificar a narrativa solheana: romance policial Cult. Como e por que Stiepán morreu em Moscou? Quem foi ele? “Stiepán Arkáditch é o nome do irmão de Ana Karenina, um dos romances de que ele mais gosta...” (p. 115)

João Pessoa, a capital do Estado da Paraíba, é o palco principal da ação da história inventada por Solha. E nela os personagens vão aparecendo, como em palco de teatro. Primeiro surge “a bela paraibana Drica Medeiros”, vinda da Espanha. Outros saltam aos olhos do leitor, sorrateiramente ou de chofre: Zé Medeiros, Dona Dondon, Hélio, Marion, Fernando, sempre em meio a longos diálogos e narrações de cenas domésticas ou não. E onde entra Stiepán Arkáditch, o personagem de nome russo que dá título à narrativa? Não deverei contar nada (nem sequer o porquê do nome), para deixar o leitor curioso, com água na boca, vontade de ler o livro de cabo a rabo.

Fortaleza, 5 de novembro de 2011.
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