Translate

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Apresentação mínima (João Carlos Taveira)



Que é poesia? Para alguns, encantamento, mistério, enlevo de alma. Para outros, jogo de palavras, linguagem, participação. E para uns poucos, como eu, é tudo isso e mais um pouco, desde que haja como complemento doses equilibradas de tolerância e solidariedade. Há, ainda, aqueles — talvez os menos tolerantes — que a defendem como expressão máxima da língua, dentro de uma sintaxe e de um princípio formal preestabelecido.

Fragmentos e desculpas (Henrique Marques-Samyn)



A certa altura de Libido aos pedaços, afirma Otávio, o protagonista: “Acho que já é público. Freud também tinha sua adorável cunhada − Minna Bernays − que, dedicada, o acompanhava discretamente em suas viagens de observações, estudos, pesquisas, lazer, férias, sei lá mais o quê. Tenho cá minhas suspeitas. E já andaram pesquisando, falando e publicando coisas assim. Resumindo, Minna Bernays ficou solteira a vida toda. Se Freud não explicou isso, Otávio Nunes Garcia reverbera que o eu de todo mundo tem seu duplo vagabundo”. Otávio insinua, suspeita, desconfia − não só nesse trecho, mas ao longo de todo o romance. Não é um sujeito muito confiável, se é que há alguém digno de confiança no romance de Carlos Trigueiro. Por outro lado, as frágeis justificativas e os patentes cinismos que permeiam as relações humanas figuradas em Libido aos pedaços fazem do romance uma acutilante peça de reflexão sobre a sociedade contemporânea.