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quinta-feira, 23 de agosto de 2012

A criança que há em mim (Clauder Arcanjo)


“Eu sou aquele menino
Que cresceu por distração.”
(Paulo Bomfim)

A criança que há em mim acorda chupando o dedo, com saudade do bico, consolo do fim da noite, no berço da rede branca, de varandas brancas. Em gostosa preguiça infantil. Quando flagrado em pesadelo, o mijo na rede, batismo do medo.
Levanta-se, acorda de olhos ainda fechados, água fria a abrir os olhos para a luz do dia, resquícios de sonho nas remelas a colarem as pálpebras sonolentas. No café, nunca foi de ter fome. O estômago inda não acordara, e o leite com açúcar a passar por entre os dentes cerrados. “Gut, gut, gut. Vamos! Gut, gut, gut.” A voz de minha mãe, Djanira, a me encorajar a esvaziar o copo, grande. “O café da manhã é a mais importante das refeições.” Conselho que, nos dias atuais, repasso credulamente para os meus rebentos.

Peregrinações amazônicas – História, mitologia, literatura, de Fábio Lucas



(Editora Letra Selvagem)

A “realidade amazônica” desponta, neste livro de Fábio Lucas, autêntica e íntegra, como relembrança de uma “viagem” mais sentimental do que geográfica. Não mais o olhar alienígena – autossuficiente, arrogante e muitas vezes deformador – do naturalista, aventureiro ou “turista”, que insistia em afirmar que a Amazônia era apenas um espaço vazio e acéfalo, infestado de insetos, répteis e índios indignos de continuarem vivos.