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quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Ouvir (Pedro Du Bois)














(Almoço na relva, de Edouard Manet)


Ouço no canto o grito do silêncio
nas madrugadas que se ofertam
em oportunidades perdidas
aos dias que se anunciam:

o estupor do corpo
ante a luz
amanhecida
aterroriza o gesto
depois da hora

ouço o desencanto da voz
em conversas e desdouros

o grito sutil da descoberta
do corpo sobre a relva

amanheceres repõem
dúvidas desconsideradas.


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Diagramas do humano constelam Ceará Mirim (Márcio de Lima Dantas*)



(Escritor Franklin Jorge)


1. Uma assinatura escritural

Walter Benjamin, no ensaio “A imagem de Marcel Proust”, relembra que todas as grandes obras literárias ou inauguram um gênero ou o ultrapassam. Esse caráter de excepcionalidade de um texto adequa-se muito bem a um nosso arremedo de classificação dos textos que compõem o livro O Céu do Ceará-Mirim. Tal fusão de gêneros diversos já havia se manifestada no livro O Spleen de Natal, no qual poucas vezes a linguagem advinda do jornalismo, tradicionalmente vinculada à função referencial da linguagem, adquiriu, por meio de vários artifícios estilísticos, uma dimensão estética consubstanciada em uma dicção que ostensivamente (e naturalmente) faz irromper a função poética da linguagem, que, em certas passagens de alguns capítulos, passa a ser a dominante.