Ao redor da mesa, os leitores olhavam-se,
sorriam, pensavam em voz alta. Éramos oito. No meio deles, via-me pequeno,
feliz, com uma pontinha de inveja. Eles expressavam pensamentos surpreendentes
com poucas palavras. E esses pensamentos, extraídos da experiência individual,
de histórias, de fatos, de conquistas da mente, de decepções, de esperanças,
enchiam livros.
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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012
terça-feira, 4 de dezembro de 2012
Vargas Llosa em tarde de torta de morango (Nilto Maciel)
Para
comentarmos a nova publicação de Rinaldo de Fernandes convidei Camila Peçanha.
Lida a última entrevista (concedida a Linaldo Guedes), fiz o pedido. Quanto
tempo o senhor me dá? No terceiro dia, telefonou: Estou pronta. Então venha
hoje. Chegou às 14 horas em ponto, do mesmo jeitinho das outras vezes: escarlates
lábios de princesa em sonho, olhos de pirilampo em voo incerto, caderninho recheado
de estrelas. Como de costume, falamos primeiro de nós mesmos. Só uma preguiça
na parte da tarde. Coisa da idade. E você tem varado esta cidade? Nem tanto. Logo
fui buscar Vargas Llosa – Um Prêmio Nobel
em Canudos (Rio de Janeiro: Garamond, 2012). No corredor, por um triz não
me choquei com Dora. Segredei-lhe: Você preparou a torta? De volta à sala,
encontrei Camila a folhear Os Buddenbrooks,
que ando a reler desde semana passada. Que achou do título? Fechou, sem pressa,
o intenso Thomas Mann. Parecia ter se preparado para a pergunta: Vejo como uma fraude.
Tomei um susto. Não esperava ouvir aquilo. Calma, Camilinha. Não seja cruel com
meu amigo. Acomodou-se no sofá: Posso explicar? Pode. E explicou, pausadamente:
Não sei de quem terá sido a ideia mercantilista (afinal, livro é mercadoria) do
título. Pois, na verdade, pouco há do escritor peruano nesse conjunto de
artigos e ensaios. Saí em defesa de Rinaldo, do editor ou do título. Minha
querida, o uso de título como chamariz não é novidade. Há tempos li um compêndio
volumoso (o título A vida sexual de Jesus
me chamou a atenção), ávido de saber os segredos daquele que é tido como deus
por milhões de pessoas. Das mais de 500 páginas, apenas duas ou três se referem
ao comportamento libidinoso do suposto filho de Maria e José. As demais se
referem aos Herodes, Roma, Jerusalém, Madalena, o casamento entre os hebreus,
as seitas religiosas, os essênios, as supostas andanças de Jesus pelo mundo,
etc.
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