Imprimi
uma relação de nomes e pus a folha sobre a mesa. Só de estudantes que me
visitam com frequência ou participam das aulas em minha oficina. Precisava de
três deles para um serviço: ler três publicações novas de prosa de ficção. De
olhos fechados, apontei o dedo para os nomes. O primeiro escolhido foi Luciano
de Barros, a quem coube Entre o elevador
e a praça, de Fáttima Britto. A Camila Peçanha ofereci A arte de afinar o silêncio, de Mariel Reis. Para Simone Farias reservei
A menina das flores, de Arine de
Mello Jr. Eles sabiam o que fazer: ler, com olho crítico, e, em dia com eles marcado,
comentar comigo as obras lidas. Ontem se realizou a sabatina. Chegaram cedo,
logo após o almoço. Eu examinava a primeira edição de Mundinha Panchico e o resto do pessoal, de Juarez Barroso. O rapaz
se interessou pelo impresso: “Já li e ouvi comentários a ele, mas nunca o vi”.
Podia levar, se quisesse. Porém, devolvesse logo, que tenho muito ciúme das
minhas pérolas. Camila quis se exibir: “Um dos melhores contistas cearenses do
século XX. Não é verdade, professor?” Dei opinião: Um dos melhores contistas
brasileiros. Simone não quis ficar para trás: “Melhor do que este aí é Joaquinho Gato”. Virou-se para mim, em busca de aprovação: “Ou não é?” Dei
resposta vaga. Deveríamos nos dedicar aos
escritores do dia.
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segunda-feira, 14 de janeiro de 2013
domingo, 13 de janeiro de 2013
Os bichos, a palha (Ronaldo Monte)
Não importa se é mito, não importa se é fato.
Crente ou descrente, nenhum membro da cultura ocidental pode ficar alheio à
figura do Cristo. Principalmente às imagens estabelecidas como o princípio e o
fim da sua vida terrena. Dispensemos, por hora, a imagem da solidão e do
sofrimento do Calvário. Vamos ficar com a imagem da origem, aquela cena simples
do menino deitado na palha, velado pelos bichos, sob os olhos dos pais. Não
precisamos de nenhum recurso à divindade para compreender o que tal cena nos
quer dizer. Ali está representado, ao mesmo tempo, todo o desamparo humano e as
possibilidades da sua reparação. A marca do humano é o desamparo. Somos
lançados prematuramente no mundo, antes que tenhamos alcançado o nível de
desenvolvimento suficiente para fazer o que qualquer mamífero consegue:
erguer-se sobre as patas e buscar o peito da mãe. Deixado as suas próprias
custas, o ser humano não vinga. Para isto estão ali o pai e a mãe do menino.
Para fazer por ele o que o seu desvalimento não permite. Mas o que
representam, então, a manjedoura e sua palha, os animais e seu silêncio? Cada
um de nós pode tentar sua própria interpretação. Para mim, a pobreza do cenário
serve para dizer que não se precisa de muito para estar no mundo. Para o frio
da noite do deserto, está ali o calor da palha. Para as tentações do poder dos
homens, ali está a humildade dos bichos. O menino vai crescer, vai deixar
seus pais, vai correr o mundo pregando uma mensagem até hoje incompreendida. E
quanto mais longe estiver deste cenário de origem, quanto mais certeza tiver da
sua divindade, mais perto estará da imagem final da solidão e do sofrimento.
Por isso, a cada ano, devemos nos lembrar que, para sermos solidários em nosso
desamparo de humanos, precisamos guardar em nós o calor da palha, a humildade
dos bichos.
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