Nunca me ocorreu interrogar minha avó sobre sua
admiração por Vauvernagues [1715-1747], cujas máximas – citadas quase sempre
para aclarar uma circunstância ou servir de esteio a uma lição – lastrearam, de
alguma forma, a minha educação.
Minha avó o lia num pequeno volume encadernado
em couro de porco, o nome do autor gravado em letras de ouro com duplos
marcadores de cetim púrpura. O uso constante e obstinado que dele fazia aquela
ledora desde o seu tempo de solteira, no Ceará-Mirim, até a sua segunda viuvez
no Estevão, quando o livro desapareceu e nunca mais o vi em parte alguma, a não
ser em minha memória, com as suas páginas já amarelecidas, impregnadas de
vivências, recendendo ao delicado odor do seu suor.