Sentou-se um sujeito num banco de praça. Tanto à
frente, como atrás e aos lados havia casas de fachadas bonitas e antigas.
Viam-se cornijas na parte superior de portas e janelas; canos, em forma de
jacaré, no alto, por onde escorria a água da chuva. Ao centro do largo, uma
estátua em homenagem ao fundador da cidade. Nome pomposo e nobre (conde fulano
de tal, barão disso e daquilo), datas de nascimento e morte. Havia um bigode
enorme na cara da figura. O homem vestia paletó sem data, eterno. Passou um
cão, que olhou de soslaio para ele e seguiu no rumo do vento. Talvez andasse à
cata de comida ou de cadela. Ou apenas andasse, como qualquer andarilho. Mais
adiante, um garoto saltitava, corria, gritava, sob os olhares da mãe. Sim, da
mãe, pois o pequeno de vez em quando clamava: “Olha, mãe, como sei pular”.
Noutro momento, uma garota sentou-se num banco defronte ao do cidadão. Trajava
saia colorida, blusa listrada, ora cantarolava, ora afundava os
dedos nos cabelos longos e loiros. Certamente pensava no valete de ouro,
imaginava beijos e abraços e uma noite cheia de suspiros, bolos, amêndoas. Uma
carroça estacionou numa das vias. O carroceiro deixou o animal amarrado ao
tronco de uma árvore e se retirou. O cavalo abaixou a cabeça e se pôs a lamber
o chão. Teria fome ou seria apenas hábito aquele gesto de fuçar o solo? Um
casal de velhinhos apareceu à esquerda do isolado pensador, a caminhar
lentamente diante de seus olhos. Falavam da necessidade de estarem de volta ao
lar, antes do anoitecer. Que teriam a fazer de tão importante em casa? Por que
não passeavam mais, de mãos dadas, antes que fosse tarde demais?
Uma fileira de formigas se formou aos pés do indivíduo. Quem as comandava? O
que pretendiam? Certamente construíam uma cidade debaixo daquela praça antiga.
As árvores esverdeavam os olhos das pessoas e os vidros. Mais um ou dois meses
e estariam ressecadas, amareladas, estioladas. Não fazia muito calor. Nem frio.
Parecia agradável a animais e humanos a tarde. A praça aparentava
tranquilidade, como no dia anterior, no mês anterior, no ano anterior, nos anos
idos.
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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013
domingo, 24 de fevereiro de 2013
Uma noite viúva da Lua (Clauder Arcanjo)
Para
Ronaldo Cagiano
...
A tarde se despedia, lentamente e sem a bênção do sol. O céu estava encoberto
por nuvens bojudas, e estas como se abraçadas com o manto grosso da melancolia.
Em volta da copa das árvores, o prenúncio pior: a revoada de pássaros —
canoros, mas quietos; esquisitamente de bicos mudos.
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