O título deste artigo não é a frase acima, de Sócrates, mas a esperta
resposta de Arcesilau:
– E eu nem disso tenho certeza.
Isso faz pensar. Mas – contrário à liberdade do pensamento – o
cristianismo estabeleceu o dogma “Eu sou a Verdade” e estamos conversados. Mas
todos sabemos que não é assim. Cristo, numa de suas Revelações, diz que o
fim do mundo aconteceria na sua geração, o que é claro, não era verdade. Diz
que não nos devemos preocupar com o dia de amanhã, mas o mesmo evangelho conta
que ele suou sangue na quinta, apavorado com a ideia da crucifixão na sexta.
Outra inverdade. E, numa Jerusalém sob Roma, que a destruiria quarenta anos
depois, disse que se deveria amar os inimigos e que se desse a César o que era
de César, o que seria considerado alta traição para um russo durante a invasão
napoleônica, para um ianque na luta pela independência, ou para um
cidadão do Recife-e-Olinda durante a Insurreição Pernambucana. Daí a tese de
Bachelard de que há um “inacabamento fundamental do conhecimento”, que ele
chama de Conhecimento Aproximado.