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terça-feira, 26 de março de 2013

Sobre Cassas (W. J. Solha)





 (Luís Augusto Cassas)

          A Imago lançou no ano passado em dois volumes que somam cerca de 1400 páginas A Poesia Sou Eu, de Luís Augusto Cassas, com toda a sua poesia reunida. Sob a égide do São Luís do Maranhão e juntando um catolicismo apaixonado e barroco a um profundo amor à cidade igualmente antiga Cassas vem construindo uma obra que eu desconhecia e que agora me causa assombro, pelo volume e pela qualidade. Na sua dedicatória, ele me disse que me mandava sua vida "tornada verso". E tem razão. Sente-se, no correr dos anos, uma personalidade poética que começa já excelente e que vai, lentamente, se desvencilhando das influências e se tornando única, o que me parece ter acontecido na realização de "Em Nome do Filho: Avento de Aquário"  lançado em 2003, quando o autor completava 50 anos. Alguma coisa do que li deixo para reler daqui a um ou dois anos se viver o suficiente pois me lembro de que quando comprei, há... séculos... um disco em que havia, de um lado, a Tocata e Fuga em Ré solo de órgão  e, do outro, a Chacona da Partita número 2 em Ré Menor solo de violino, deslumbrei-me com a primeira e abominei a outra, cuja beleza levei muito tempo para assimilar. Digo isso porque um poeta como Cassas supera em muito um leitor como eu como Bach me supera e eu jamais ousaria dizer do autor da Paixão Segundo Mateus, dos Concertos Brandenburgueses ou das Variações Goldberg  "não gosto disto e daquilo, dele", porque sei que foi Bach, naqueles momentos, que me deixou demasiado pra trás e que o que tenho a fazer é correr atrás do prejuízo. Claro que a monumentalidade do que alcancei na poesia do maranhense é tanta que me permite a ponderação. Que maravilha vê-lo dizer que sua cidade o nomeia "fiel protetor / das pedras do nosso chão" e seu "defensor perpétuo e lírico". Imagino que, de certo modo, um maranhense acompanhe essa obra com intensidade ainda maior do que a que me chegou. Em compensação, recebo-a no restrito campo do universal, como a Dublin de Joyce, a Londres de Virginia Woolf, o Recife do Kleber Mendonça Filho, a Mannhatan de Woody Allen e Gershwin, a Delft de Vermeer, e isso é mais do que suficiente.
          "Pedra nossa/ da rua do giz / santificai/ são luís".

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segunda-feira, 25 de março de 2013

Sons (Pedro Du Bois)











Escuto no som
a constância
com que se repete:

     água contra a vidraça
     olho o escuro
     da noite. O relâmpago
     rasga a imaginação
     em medos

esqueço o poema
e me lanço
ao encontro: encurto
a distância e o som
resta lamentos.



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