(Luís Augusto Cassas)
A Imago lançou no ano passado – em dois volumes que somam cerca de
1400 páginas – A Poesia Sou Eu, de Luís Augusto Cassas,
com toda a sua poesia reunida. Sob a égide do São Luís do Maranhão – e juntando um catolicismo apaixonado
e barroco a um profundo amor à cidade igualmente antiga – Cassas vem construindo uma obra que
eu desconhecia e que agora me causa assombro, pelo volume e pela qualidade. Na
sua dedicatória, ele me disse que me mandava sua vida "tornada
verso". E tem razão. Sente-se, no correr dos anos, uma personalidade poética
que começa já excelente e que vai, lentamente, se desvencilhando das
influências e se tornando única, o que me parece ter acontecido na realização
de "Em Nome do Filho: Avento de Aquário" – lançado em 2003, quando o autor
completava 50 anos. Alguma coisa do que li deixo para reler daqui a um ou dois
anos – se viver o suficiente – pois me lembro de que quando
comprei, há... séculos... um disco em que havia, de um lado, a Tocata e Fuga em
Ré – solo de órgão – e, do outro, a Chacona da
Partita número 2 em Ré Menor – solo de
violino, deslumbrei-me com a primeira e abominei a outra, cuja beleza levei
muito tempo para assimilar. Digo isso porque um poeta como Cassas supera em
muito um leitor como eu – como Bach
me supera – e eu
jamais ousaria dizer do autor da Paixão Segundo Mateus, dos Concertos
Brandenburgueses ou das Variações Goldberg "não gosto disto e
daquilo, dele", porque sei que foi Bach, naqueles momentos, que me deixou
demasiado pra trás e que o que tenho a fazer é correr atrás do prejuízo. Claro
que a monumentalidade do que alcancei na poesia do maranhense é tanta que
me permite a ponderação. Que maravilha vê-lo dizer que sua cidade o nomeia
"fiel protetor / das pedras do nosso chão" e seu "defensor
perpétuo e lírico". Imagino que, de certo modo, um maranhense acompanhe
essa obra com intensidade ainda maior do que a que me chegou. Em compensação,
recebo-a no restrito campo do universal, como a Dublin de Joyce, a Londres de
Virginia Woolf, o Recife do Kleber Mendonça Filho, a Mannhatan de Woody Allen e
Gershwin, a Delft de Vermeer, e isso é mais do que suficiente.
"Pedra nossa/ da rua do giz /
santificai/ são luís".
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