1. A menina, o pombo e a vidraça
Uma menina loura com pitó, tipo Pedrita, espanta um
pombo a catar sobra de comidas. Ele entrou por alguma porta, pois não há
janelas nesse barulhento aeroporto. Estou defronte a uma vidraça a exibir, em
primeiro plano, as pistas em uso de pouso e decolagem com seus movimentos e
ruídos. Em segundo plano, uma sequência de árvores ao pé de uma rodovia por
onde veículos queimam combustíveis e transportam cargas, angústias, sonhos,
esperanças, doentes e outros tantos desprovidos de desejos ou conformados com o
desengano. Eu cá, eles lá, enquanto um branco avião corta o ar e logo se
esfuma. Ia em direção à esquerda, mas não estou bem certo, pois não sei como
fico em relação aos pontos cardeais. Pessoas ao meu redor leem livros, usam os telefones
e nano transmissores para dar notícias a quem sequer pediu ou deseja
recebê-las. Chove.