Junto
ao balcão do saloon, o sujo Terence Hill – em “Meu nome é Trinity” – espera o
saque do elegante vilão de negro. Quando o bandido trisca, porém, recebe dele
um tapa na cara e o cano do revólver no peito. Fantástico! Aí há o duelo de
guitarras heavy e blues, de “Encruzilhada”, em que o virtuosismo dos antagonistas,
cada um executando uma parte de “Eugene´s Trick Bag” – releitura do Capricho
número 5, de Paganini, é incrível. E revejo o trecho de “Amargo Pesadelo”, em
que um menino autista, do alto alpendre de uma velha casa de madeira, embarca
com seu banjo na provocação do ator Ronny Cox, com violão, travando, com ele,
um dueto de improviso que se tornou célebre. Aí há o embate das dançarinas de
flamenco na sequência “la Tabacalera” – do filme “Carmen”, de Saura, a partir
da ópera de Bizet – que culmina com a progatonista pegando uma faca e matando a antagonista. A delícia,
no Youtube, prossegue quando revejo os intensos dezessete minutos de
conflito-em-movimento entre Ben-Hur – na quadriga de cavalos alvos – e Messala,
com seus quatro corcéis negros. Mas de repente me esqueço dos confrontos e
revejo Chaplin na cena de “A Corrida do Ouro”, em que ele transforma dois pães
franceses em sapatos de uma espécie de Pinóquio, simplesmente lhes espetando
dois garfos, executando com eles, em seguida, um gracioso sapateado sobre uma
mesa de bar. Caramba: Marlon Brando no discurso de Marco Antonio do “Júlio
César”! E a sequência do “Assim Caminha a Humanidade”, em que os três filhos da
personagem de Elisabeth Taylor brincam com um peru que, na cena seguinte, é
reconhecido pela garota menorzinha na ceia de natal. Ela o aponta para os
irmãozinhos, chocada: “É o Pedro!”, e cai no choro! E “Laranja Mecânica”
abrindo com a pungente, extraordinariamente moderna “Música para o Funeral da
Rainha Mary” – para trombetas e tambores – composta por Henry Purcell em 1695!
Difícil manter um “crescendo”, mas há Pavarotti na ária “Nessun Dorma”: “Perfezione assoluta in unu omo. Prova dell'esistenzadi Dio”.
Seu envolvimento dramático e esforço físico pra alcançar o dó sustenido
final é tão grande, que o tenor, quando o termina, continua em transe. Ah, e a
sequência do “Amadeus”, em que Wolfgang, agonizante, dita a lindíssima
“Lacrimosa”, do “Réquiem”, a um deslumbrado e trôpego Salieri, que acompanha
(conosco) o raciocínio ágil e brilhante do gênio em pleno trabalho de
criação! O Youtube, sem dúvida, prova
que em toda obra de arte há sempre uma parte que é maior que o todo.
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