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quarta-feira, 1 de maio de 2013

O melhor do melhor (W. J. Solha)




Junto ao balcão do saloon, o sujo Terence Hill – em “Meu nome é Trinity” – espera o saque do elegante vilão de negro. Quando o bandido trisca, porém, recebe dele um tapa na cara e o cano do revólver no peito. Fantástico! Aí há o duelo de guitarras heavy e blues, de “Encruzilhada”, em que o virtuosismo dos antagonistas, cada um executando uma parte de “Eugene´s Trick Bag” – releitura do Capricho número 5, de Paganini, é incrível. E revejo o trecho de “Amargo Pesadelo”, em que um menino autista, do alto alpendre de uma velha casa de madeira, embarca com seu banjo na provocação do ator Ronny Cox, com violão, travando, com ele, um dueto de improviso que se tornou célebre. Aí há o embate das dançarinas de flamenco na sequência “la Tabacalera” – do filme “Carmen”, de Saura, a partir da ópera de Bizet – que culmina com a progatonista pegando  uma faca e matando a antagonista. A delícia, no Youtube, prossegue quando revejo os intensos dezessete minutos de conflito-em-movimento entre Ben-Hur – na quadriga de cavalos alvos – e Messala, com seus quatro corcéis negros. Mas de repente me esqueço dos confrontos e revejo Chaplin na cena de “A Corrida do Ouro”, em que ele transforma dois pães franceses em sapatos de uma espécie de Pinóquio, simplesmente lhes espetando dois garfos, executando com eles, em seguida, um gracioso sapateado sobre uma mesa de bar. Caramba: Marlon Brando no discurso de Marco Antonio do “Júlio César”! E a sequência do “Assim Caminha a Humanidade”, em que os três filhos da personagem de Elisabeth Taylor brincam com um peru que, na cena seguinte, é reconhecido pela garota menorzinha na ceia de natal. Ela o aponta para os irmãozinhos, chocada: “É o Pedro!”, e cai no choro! E “Laranja Mecânica” abrindo com a pungente, extraordinariamente moderna “Música para o Funeral da Rainha Mary” – para trombetas e tambores – composta por Henry Purcell em 1695! Difícil manter um “crescendo”, mas há Pavarotti na ária “Nessun Dorma”: “Perfezione assoluta in unu omo. Prova dell'esistenzadi Dio”. Seu envolvimento dramático e esforço físico pra alcançar o dó sustenido final é tão grande, que o tenor, quando o termina, continua em transe. Ah, e a sequência do “Amadeus”, em que Wolfgang, agonizante, dita a lindíssima “Lacrimosa”, do “Réquiem”, a um deslumbrado e trôpego Salieri, que acompanha (conosco) o raciocínio ágil e brilhante do gênio em pleno trabalho de criação!  O Youtube, sem dúvida, prova que em toda obra de arte há sempre uma parte que é maior que o todo.

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terça-feira, 30 de abril de 2013

Elogiar (Tânia Du Bois)




“Podemos nos defender de um ataque, mas somos indefesos a um elogio.” (Freud)
           
Abro espaço em minha vida para as atividades do cotidiano, mas resisto em considerar algum espaço para dar e receber um elogio ou auto-elogio. O auto-elogio, por vezes, incomoda e até constrange. O elogio incentiva, dá a força e o apoio que me mantém entusiasmada para seguir em frente. Cabe elogiar a todos os que mereçam, porque revelam a coragem do ato, do gesto, da competência e, ainda, fazer justiça a alguém torna menos árdua a sua luta pela sobrevivência. Segundo Shirley Souza, “Uma vida em amostra ao mundo / Toda uma história expressa em camadas / As marcas de uma jornada / Demonstrada por meras palavras...”. Machado de Assis expressa, “Eu não sou homem que recuse elogios. Amo-os, eles fazem bem à alma e até ao corpo”.