Numa dessas tardes preguiçosas, após almoço
farto, senti vontade de sonhar. Andava com saudade de umas paisagens ou lugares
antigos: casas de parede-meia, duas janelas, porta alta, sem muro, calçada de
cimento, chão da rua coberto com pedra tosca ou paralelepípedo, um jumento a
pastar, uns pombos a arrulhar, uma carroça a passar e meninos a correr atrás de
bola. Saudade de umas pessoas esquecidas, talvez nunca vistas. Por pouco, não
cochilei na cadeira da sala. Animou-me e assustou-me o chamado estridente da
sirena. Então me lembrei de ter combinado com minhas alunas e meu discípulo
novos um cavaquinho sem pauta: tema livre. O mote ficaria por conta do acaso.
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segunda-feira, 24 de junho de 2013
domingo, 23 de junho de 2013
Jacob (Emanuel Medeiros Vieira)
(Jacob Gorender)
Em
memória de Jacob Gorender, falecido em 11 de junho de 2013, e cuja morte não
obteve a repercussão que deveria ter tido – se tivesse nascido num país decente
e que cultivasse a memória.
(Mas não
ele era “celebridade”, não era fútil, nem cantor de pagode, axé, funk, nem de
música sertaneja idiotizada – não sertaneja de raiz –, ator de novela ou
jogador de futebol).
No calor da hora: informam que morreste.
E foste combatente – mesmo nas trevas.
(Num país de poucos combatentes e de raros
pensadores.).
Deixaste um legado (quantos deixam?): foste um
denso intelectual marxista,
Um lutador torturado, um pensador.
Quando aprenderemos a conviver com a divergência?
Mas tudo ficou menor – não há debates, mas
desqualificação de adversários, e o deslumbramento, a velhacaria, a
mediocridade, a ignorância, o saque do bem público e a mais reles futilidade
tomaram conta não só dos que estão mandando – mas do país inteiro.
Pior: é uma corrupção interior.
Uma resignação covarde.
E para subir, acreditam que é preciso dar
cotoveladas nos outros.
E aí estamos:
Informam que 11% dos assassinatos ocorridos no
mundo são cometidos no Brasil.
O que foi feito da chamada “esquerda” brasileira?
Ela existe ainda?
Terá sido inútil essa luta pretérita – quando
tantos foram torturados, morreram nas masmorras da ditadura ou passaram os
melhores anos de suas vidas no exílio?
Perdoa-me, Jacob:
merecerias um texto mais sereno.
Entende-me, combatente:
escrevo no calor da hora.
A gente transfere as
ações e obrigações. Não o tempo.
Um dia, as contas serão acertadas e já pagamos um
preço tenebroso.
Ilusões perdidas?
O combate continua nas trevas, mais indigno, mais
corrompido – adeus, combatente baiano e universal, que se foi aos 90 anos.
(Não somos obrigados a concordar com tudo para
respeitar alguém).
Algum farol iluminará essa escuridão (iria
qualificá-la de dolorosa), mas prefiro chamá-la (esta sombra) de mesquinha.
(Eu sei: vão me chamar de “pessimista”: há tanta
gente com Bolsa-Família e com carnê das Casas Bahia...).
Até!
(Salvador – onde nasceste em 20 de janeiro de 1923
–, junho de 2013).
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