Translate

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Com José Albano e Valquíria Monterosso, além de quatro novos cavaleiros das letras (Nilto Maciel)





Conheci José Albano (a poesia dele) em meu tempo de descobertas (o mesmo tempo do conhecimento da boa literatura, do marxismo, do sonho de ser livre e da fantasia nos olhos das meninas). Quanto mais o alazão fogoso corria, mais livros se abriam às minhas aspirações e mais pupilas se fechavam ao meu prazer. Então, em tarde muito distante daquelas manhãs, lembrei-me de versista cearense devotado a escrever em tons envelhecidos. Corri ao quarto dos fundos, onde vivem alquimistas tão antigos quanto ele. Apanhei suas Rimas (Universidade Federal do Ceará, 1997) e me entreguei à soletração de umas odes, em voz alta: “Poeta fui e do áspero destino / Senti bem cedo a mão pesada e dura. / Conheci mais tristeza que ventura / E sempre andei errante e peregrino”. Então bateram à porta, com impaciência de adolescente. Corri, cansado e sonolento, ao portão de metal. Meti a cara no olho mágico: criatura talvez provinda da mais distante esfera espiava para mim, súplice e bela como as donzelas de antigamente. E se chamava Valquíria Monterosso. Trazia, nos braços, quatro feixes de papel: Luto doce, de Tatiana Morais; A liberdade é amarela e conversível, de André Giusti; O senhor das estátuas, de Pedro Du Bois; e Muitos caminhos e uma vida, de José de Fátima Silva. Abri a porta e acordei definitivamente: a moça me visitava pela segunda vez (a primeira se dera no início de julho) e os impressos por ela trazidos eu lhe tinha emprestado. Quanto a José Albano, tinha nascido em 1882, em Fortaleza, e se findara em 1923. Tão moço e tão trágico! E mais não informo, que isto e muito mais estão nas brochuras e na Internet.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Mumificação (Rocha Oliveira)





Não, não fora a prelo quando em vida... Rejeitaram-lhe concursos e editoras. Não lhe citou a crítica e nem foi lido – creiam-me – até mesmo pelos seus! E não se creia que assim foi por justa causa: demérito da inabilidade. Já morto, é exumado das ruínas (mais remotas) de sua própria geração. O exibem hora (defunto) qual relíquia; quando dantes era escombro – entulho – craca! Toda a sua obra agora é póstuma. Enquanto homem, era nada – um ninguém! Mumificado, é o mor dos ossos de seu tempo..."