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sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Mundos imaginados (Paulo Lima)




Sou um voyeur, mas não é nada do que você está pensando.

As palavras podem ter o efeito de um golpe contundente. As palavras podem ferir mais do que um punhal. Pavlov sabia disso muito bem. Mas os escritores, sem que necessitem ostentar em seus currículos nenhum tipo de estudo sobre o comportamento humano, também sabem disso. Então vou esclarecer que o voyeurismo a que me refiro não tem qualquer conotação sensual. Nada do que você possa estar imaginando.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

O livreiro (Clauder Arcanjo)



Para Ronaldo Cagiano


Encimando a prateleira principal a frase, em letras góticas e vermelhas: “Um país se faz com homens e livros.” — Monteiro Lobato.
A mulher sempre a queixar-se do ramo que abraçara. “Nós vamos morrer de fome, Zacarias. Este é um país de analfabetos, homem!”
O negócio aberto pontualmente às sete da manhã. Aproveitava o vazio das primeiras horas para limpar os volumes expostos. Lá, o encontro com Machado de Assis, Dante, Eça de Queirós, Shakespeare, Balzac, Victor Hugo, Dostoiévski, Herman Melville, Gregório de Matos, Goethe, Cervantes, Camões... Velhos companheiros, sob uma fina camada de poeira.
O ajudante Nicolau Bartolomeu estranhava por que Seu Zacarias sempre escolhia arrumar a estante menos visitada.
— É ela que precisa de um bom espanador, meu caro. Os demais são sempre limpos pelos próprios dedos dos incautos!

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