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domingo, 17 de novembro de 2013

A construção do gesto (Tânia Du Bois)



                    


Na construção do gesto temos a representação do pedreiro como fonte primordial da vitalidade em quem podemos acreditar como possibilidades da importância das mãos. Segundo Pedro Du Bois, “Tenho a terra sob as unhas / o que seria meu / e de todos...//  o que seria se a terra estivesse / sob as unhas // a as mãos calejadas”.

Na música, Chico Buarque homenageia o pedreiro como motivo do mais legítimo orgulho do povo brasileiro, qualificando o seu trabalho com as composições Pedro Pedreiro e Construção. “... Pedro pedreiro espera o carnaval / Esperando , esperando, esperando o sol // Esperando o trem, esperando aumento para o mês que vem / Pedro pedreiro penseiro esperando o trem / Manhã parede, carece de esperar também / Pedro não sabe mas talvez no fundo espere alguma coisa mais linda do mundo...”

A letra dessa música, na verdade é muitas vezes peça de ficção, mas também é categórica na identificação do gesto quando a versão se mistura à vida. Em vez de discursos há uma composição que se faz notória e engrandece a profissão do pedreiro como ato social.

“... Subiu a construção como se fosse máquina / Ergueu no patamar quatro paredes sólidas / Tijolo por tijolo num desenho mágico / Seus olhos embotados de cimento e lágrima / Sentou para descansar como se fosse sábado...” (Chico Buarque)

O pedreiro trabalha em ritmo de muita exigência e prazos: início e término da obra. Ele é peça principal no jogo de montar. Sua prática e visão são estratégicas para obter o caminho até o resultado, e encontrar a satisfação do trabalho feito pela conquista das mãos. O mérito é o processo, e a prática é o resultado da busca do reflexo na sociedade para a valorização da profissão.

“... Subiu na construção como se fosse sólido / Ergue no patamar quatro paredes mágicas / Tijolo por tijolo num desenho lógico / Seus olhos embotados de cimento e tráfego / Sentou prá descansar como se fosse um príncipe...” (Chico Buarque)

Ao pedreiro faço reverências, pela capacidade de sobreviver aos desafios gerados pela construção que, ao ser vivenciado, revela o gesto. Trata-se na verdade do reconhecimento por acreditar no seu esforço e pela contribuição que traz para a sociedade, onde desempenha o papel importante de ter a construção como gesto.

“Bastam as mãos... // saber que o pó entranha a pele... // sem enfeites bastam as mãos / repousando sobre a obra.” (Pedro Du Bois) 

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sábado, 16 de novembro de 2013

Sobre Quintal dos Dias (Badida Campos)




 Nilto amigo:

li e terminei há pouco o seu delicioso livro "Quintal dos Dias". Sensação de ter lido um romance. O personagem principal (você, no caso), aparece em todos os "capítulos" e as descrições das alegrias e dores são comoventes. Baturité... (meu irmão casou com a neta do "Dr. João Ramos, com suas cem janelas"). Você foi um moço cercado de livros ("o jogador de bola cedeu lugar ao leitor" e cita o nome de meu pai como um dos seus autores. Incríveis os nomes das tribos indígenas que povoaram o Ceará e a sua memória é estupenda! Ah, e suas descrições de menino de interior: "Pelos punhos da rede, via o mundo escuro. Galos cantavam canções eternas no quintal de minha casa." Lindo! Minha mãe escreveu um livro autobiográfico ("Os galos da minha infância" e a história começa com ela menina e termina no dia em que conheceu meu pai, e explicava ter parado nesta época porque os "povos felizes não têm história".

O "Pedaço de Ferro" é maravilhoso! "Cavava buracos e poços, mudava o curso dos rios, derrubava florestas, revolvia montanhas". E você, como coronel mandão: " Faça-se ponte aqui. E vinha minha mãe a me contrariar: Saiam já de perto deste esgoto!" Ri muito. E que final de texto belo: "Súbito me vi na rua, só, sem mãe e sem brinquedo." Ah, você caminhou também, mesmo que por pouco tempo, por cima de tintas, pincéis e telas. E a mocinha chegando a sua casa, tocando a campainha e você: "A princípio, não lhe dei ouvidos. Dei-lhe todos os olhos".  Tive pena de Ailton. Morreu tão moço! E com a grande vontade de ver seus versos publicados. Pena grande também quando li que sua obra mais importante desapareceu num incêndio! E as bagunças, quando adolescente, no colégio! "Os professores liam fábulas e nós não queríamos saber nem de uvas, nem de raposas!" Delícia quando você, depois do texto sobre o recebimento dos prêmios, diz: "Agora peço, ao leitor paciente, permissão para me retirar. Preciso ler direitinho novo regulamento de concurso".

Enfim, amigo, me deliciei com seu livro. Minha admiração por você é grande, creia.

Receba o meu abraço afetuoso.

Badida

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