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segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Um ex-escritor em sua maior infelicidade (Nilto Maciel)




Passei todo o 7 de novembro à espera de Lavínia Medeiros. Acordei com os galos, cantei Luis Gonzaga, tomei banho demorado e li alguns contos de Mundinha Panchico e o resto do pessoal. Demorei-me no jocoso “O ex-operário Expedito em sua maior felicidade”. Havíamos marcado o encontro para o meio da tarde. Por volta das 16 horas, dei início a uma série de insultos, primeiro em forma de murmúrio e, por último, quase aos gritos: Safada! Mentirosa! Trapaceira! E, só à boca da noite, me dei conta do engano imperdoável: a reunião seria no dia 8. Então pedi a Lavínia mil desculpas, ajoelhei-me diante da imagem de minhas filhas e me amaldiçoei: Caduco! Danado! Maluco!


domingo, 17 de novembro de 2013

A construção do gesto (Tânia Du Bois)



                    


Na construção do gesto temos a representação do pedreiro como fonte primordial da vitalidade em quem podemos acreditar como possibilidades da importância das mãos. Segundo Pedro Du Bois, “Tenho a terra sob as unhas / o que seria meu / e de todos...//  o que seria se a terra estivesse / sob as unhas // a as mãos calejadas”.

Na música, Chico Buarque homenageia o pedreiro como motivo do mais legítimo orgulho do povo brasileiro, qualificando o seu trabalho com as composições Pedro Pedreiro e Construção. “... Pedro pedreiro espera o carnaval / Esperando , esperando, esperando o sol // Esperando o trem, esperando aumento para o mês que vem / Pedro pedreiro penseiro esperando o trem / Manhã parede, carece de esperar também / Pedro não sabe mas talvez no fundo espere alguma coisa mais linda do mundo...”

A letra dessa música, na verdade é muitas vezes peça de ficção, mas também é categórica na identificação do gesto quando a versão se mistura à vida. Em vez de discursos há uma composição que se faz notória e engrandece a profissão do pedreiro como ato social.

“... Subiu a construção como se fosse máquina / Ergueu no patamar quatro paredes sólidas / Tijolo por tijolo num desenho mágico / Seus olhos embotados de cimento e lágrima / Sentou para descansar como se fosse sábado...” (Chico Buarque)

O pedreiro trabalha em ritmo de muita exigência e prazos: início e término da obra. Ele é peça principal no jogo de montar. Sua prática e visão são estratégicas para obter o caminho até o resultado, e encontrar a satisfação do trabalho feito pela conquista das mãos. O mérito é o processo, e a prática é o resultado da busca do reflexo na sociedade para a valorização da profissão.

“... Subiu na construção como se fosse sólido / Ergue no patamar quatro paredes mágicas / Tijolo por tijolo num desenho lógico / Seus olhos embotados de cimento e tráfego / Sentou prá descansar como se fosse um príncipe...” (Chico Buarque)

Ao pedreiro faço reverências, pela capacidade de sobreviver aos desafios gerados pela construção que, ao ser vivenciado, revela o gesto. Trata-se na verdade do reconhecimento por acreditar no seu esforço e pela contribuição que traz para a sociedade, onde desempenha o papel importante de ter a construção como gesto.

“Bastam as mãos... // saber que o pó entranha a pele... // sem enfeites bastam as mãos / repousando sobre a obra.” (Pedro Du Bois) 

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