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sábado, 30 de novembro de 2013

Point of no return (Flávio R. Kothe)



  
 










(Vladimir Horowitz)

Enquanto Horowitz tocava na sala,
ao retornar à sua querida Moscou,
uma lágrima escorria em teu rosto,
seguida por outra lágrima e outras,
como se quisesses de volta o teu avô
que amava o Devaneio de Schumann.

Os amores conosco irão para sempre,
não temos no peito espaço bastante
para abrigar todos os que já se foram
e dormem cansados dentro de nós:
entre as costelas temos tumbas tantas
que somos um cemitério ambulante.

A lágrima escorre bem lenta, como se
quisesse parar o tempo, que dispara
tantas setas contra nós, tique-taques
como os relógios antigos dos bisavós:
quando vejo, estou prostrado no chão
de joelhos diante da lágrima em efusão.

Não temos lenços nem toalhas bastantes
para secar essa enchente que nos afoga
na pena que temos dos tantos mortos
que não podemos mais fazer ressurgir
aqui onde por eles choramos, o sangue
em vão vertemos nas entranhas da terra.

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sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Cultura (Emanuel Medeiros Vieira)



                                                                   (Mercedes Sosa)




Falarei sobre cultura. Cultura? Sim: sem pretensão e de maneira clara. Um dos temas que mais problematizaram a minha geração foi a discussão sobre “alta cultura” ou “baixa cultura”, arte “elitista” ou arte “popular”. O CPC da UNE, já na década de 50 e também na de 60, pensou o assunto em reuniões, seminários, obras de arte. E subiu o morro. Lógico, havia equívocos e um maniqueísmo ingênuo que, dentro do contexto da época, até era possível entender. Por que não gostar de Beethoven e de Carola, de Mozart e de Pixinguinha, de Bach e de Lupicínio?