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terça-feira, 24 de dezembro de 2013

O Natal de cada um (Nilto Maciel)



 
Chapeuzinho Vermelho beijou papai e mamãe, deitou-se na caminha e se preparou para dormir. Papai e mamãe se afastaram da menina, fecharam a porta do quarto e se esgueiraram pelos cantos. Feito gatos borralheiros, iriam tocaiar monstros, enquanto não dormissem.

À meia-noite, Papai Noel subiu ao telhado da casa, encontrou a telha vã e avistou o corpo dormido da garotinha. Alisou a barba, lambeu os beiços e se pôs a descer pelo escuro, feito rato de botas.



segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Proust e Ruskin (Franklin Jorge)





Em seu exemplar prefácio a “Sésamo e os lírios”, Marcel Proust declara que um livro nunca pode nos contar aquilo que desejamos, mas tão-somente despertar em nós o desejo de saber, pois não é possível recebermos a sabedoria de outrem; é preciso criá-la por nós mesmos.

Proust sugere que o valor da leitura, na infância, não reside no livro em si mesmo [que no seu caso era “O Capitão Fracasso”, de Théophile Gautier] e, sim, nas lembranças inconscientemente conservadas nele, de tal forma valiosas para nosso julgamento atual que, se por acaso, voltamos hoje às mesmas páginas, não é só porque elas representam o único calendário que sobrevive dos dias desaparecidos.