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sábado, 18 de janeiro de 2014

O homem e a cura (Belvedere Bruno)





Fazia um tempão que nem alegria eu tinha. Tudo o que mais gostava, agora jogava fora. Enjoei de tudo: amizades, papo no boteco, sinuca. Pra quê, se era sempre a mesma coisa? O pessoal resmungava: cadê Diógenes? Onde andará metido aquele cara? Vai ver arrumou alguma nega e se mandou. E eu nada. Era comer, deitar e dormir.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Nilto Maciel: dois livros (Fernando Py)




É certo que o cearense Nilto Maciel vem produzindo muito. Atualmente conta quase trinta livros publicados e, o mais importante, todos com uma notável diversidade de temas, estilos e situações, em textos de linguagem bem trabalhada e gêneros diversos: romances, contos, crônicas, novelas, artigos, ensaios e até um volume de poemas (Navegador, 1996). Recentemente enviou a esta seção mais dois livros, ambos publicados este ano pela Editora Bestiário, de Porto Alegre: Gregotins de desaprendiz e Quintal dos dias. O primeiro é uma coletânea de artigos e resenhas de livros. Os escritores que aborda, todos brasileiros, variam muito, tanto em gênero literário quanto em posição geográfica. Muitos deles são praticamente desconhecidos fora de seu Estado natal. Outros, bastante conhecidos em quase todo o Brasil, são em geral romancistas e/ou contistas como Miguel Jorge (Veias e vinhos, romance, e Avarmas, contos), Caio Porfírio Carneiro (O sal da terra) ou W. J. Solha (A canga), mas também cronistas (Enéas Athanázio) e, sobretudo, poetas (Francisco Carvalho, José Alcides Pinto, Joanyr de Oliveira, Salomão Sousa, Dimas Macedo, Floriano Martins etc). As anotações judiciosas e percucientes de Nilto Maciel provam que se tata de um excelente crítico, embora menos praticado do que o contista, o cronista e o romancista. E mostram principalmente que foi e é um grande leitor, um sujeito que leu muito a vida inteira e está sempre familiarizado com os escritores contemporâneos e os antigos, sobretudo os clássicos.
             
Por sua vez, Quintal dos dias possui uma base propriamente biográfica. Mas os dados biográficos estão sempre ligados a seus contos, crônicas e romances. Nilto Maciel se empenha em detalhar aspectos de sua vida que influenciaram suas criações literárias. E o faz com bastante liberdade, exemplificando toponímias e caracterizando determinados personagens. E tudo isso com uma destreza de elaboração, uma linguagem exata e cativante que torna muito agradável e proveitosa a leitura. Em suma, só temos a ganhar com a leitura completa destes dois volumes.

(Tribuna de Petrópolis, 13/dezembro/2013)