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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Inventário (Emanuel Medeiros Vieira)













A vida é longa – às vezes
a vida é curta – sempre
a memória dura.
Na parede, um retrato – tantos nomes, tantos rostos,
bigodes, barbas, bonés, tudo o mais.
No coração, o verso de Manuel Bandeira:
“A vida inteira que poderia ter sido e que não foi”.
(Serão os sonhos abortados dos nascidos no pós-guerra?)
É tudo memória.
(Nada de novo perto do sol.)
E nasce o dia – caminhas: verdes, mangas, jacas, amoras, pássaros cantando,
E uma criança sorri para ti.
A vida inelutavelmente finita – ela é assim mesmo, sem (mais) sonhos napoleônicos.
Há algo maior do que este naufrágio.
Há?
“Tudo ressurge quando tem calor”.
(Miguel Torga)

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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Olho mágico (Hilda Mendonça)





 









Desta janela assisto a tudo

Vejo o velho
Vejo o moço
A moça de salto alto
A velha senhora encurvada.

Desta janela vejo o mundo:
A violência
A carência
A dor de quem sabe que vai.

Desta janela vejo o cão (o traiçoeiro)
Vejo o gato (o sorrateiro)
Vejo o rato (o inconfiável)

Pássaros,
Cigarras,
Carroça burro puxando...

Desta janela eu vi certa vez
Minha vida por mim passando.

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Hilda Mendonça de Passos - MG, no livro Caminho de Meus Andares, Scortecci Editora.