Translate

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Redemoinho na terra dos demônios (Nilto Maciel)




Ao dizer ‘beijos, Tusa’ e desligar o telefone, ouvi a campainha do portão. Acabara de conversar com Aretusa, a mais nova de minhas herdeiras. Na azáfama dessa vida de muitas filhas (reais) e milhares de fãs (imaginárias), recebi clarão súbito no cérebro: Só poderia ser Janete Clair. Corri (sem me preocupar com a vestimenta, pois me habituei a permanecer só de cueca em casa) e, sem prestar atenção ao mundo ao meu redor, bati a unha encravada num pé de cadeira, quis chorar e mandei o objeto para a puta que o pariu. A capengar e suar sangue, dei à pobre aluna a pior das recepções de sua vida. (Só então me percebi vestido da cintura até os pés). Depois de explicações mentirosas de minha condição física e emocional, dei início à aula.

(Santos olhos) Clauder Arcanjo




Quase noite. Ela desceu do ônibus, deixando, atrás de si, um rastro de rútila incredulidade. Tudo por culpa daqueles olhos. Santos olhos.
A lotação logo saiu, e todos os passageiros seguiram com um quê de profundo abandono. Melhor diria: pior do que abandono. Com um jeito de quem, num piscar de vista, se viram órfãos, privados da luz guia, da estrela que lhes davam, ao fim de um dia tão comum, num cair de tarde tão burlescamente cinzenta, um ar de imperial e singela majestade. Pois haviam, suditamente, ao longo de várias ruas e avenidas da grande cidade, estado ao lado deles, daqueles olhos santos olhos. De tão belos, quase anormais.