Capítulos da História de muitos povos estão fielmente narrados em obras de ficção. No entanto, a História (narração metódica de fatos) tem sido, no mais das vezes, falseada ou tornada mera crônica de louvor aos poderosos. Narradores, porém, quase sempre têm exercido o papel de narradores da História de seus povos, fugindo aos métodos científicos e valendo-se da imaginação. Ludwig Sehwennhagen é tido como louco ou, quando tratado com condescendência, como ficcionista. Muitas vezes é difícil distinguir História de história, quer quando o escritor é fiel a um tempo, como no romance histórico, quer quando faz de sua obra uma revelação (apokalypsis), como na obra do mencionado professor austríaco.
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Em 64 D. C. cinco narradores brasileiros contam um pedaço da História do Brasil. Três deles limitam em determinados períodos as suas narrativas. Marques Rebelo se cinge precisamente ao dia D do movimento golpista de 1964, numa cidade do interior em vias de desenvolvimento, com suas pequenas fábricas e outras novidades tecnológicas. A confusão logo se faz, quando os outrora situacionistas passam à oposição, perseguidos pela nova ordem política. Inicia-se um processo de vinditas bárbaras. É quando acodem três especiais cavalheiros, muito ordeiros, contrários aos métodos de castigo (tortura) impostos aos derrotados, e, ciosos de coisas mais importantes do que as pessoas, sejam elas revolucionários, comunistas ou meros oposicionistas. Para o trio é preciso tirar proveito da nova situação. E se dá o primeiro golpe em outro preceito defendido pelos vencedores, instalando-se a corrupção.
Em 64 D. C. cinco narradores brasileiros contam um pedaço da História do Brasil. Três deles limitam em determinados períodos as suas narrativas. Marques Rebelo se cinge precisamente ao dia D do movimento golpista de 1964, numa cidade do interior em vias de desenvolvimento, com suas pequenas fábricas e outras novidades tecnológicas. A confusão logo se faz, quando os outrora situacionistas passam à oposição, perseguidos pela nova ordem política. Inicia-se um processo de vinditas bárbaras. É quando acodem três especiais cavalheiros, muito ordeiros, contrários aos métodos de castigo (tortura) impostos aos derrotados, e, ciosos de coisas mais importantes do que as pessoas, sejam elas revolucionários, comunistas ou meros oposicionistas. Para o trio é preciso tirar proveito da nova situação. E se dá o primeiro golpe em outro preceito defendido pelos vencedores, instalando-se a corrupção.
O conto de Antonio Callado, sem o humor e a sátira dos demais, é um relato do período subsequente à vitória do movimento, quando a estudantada começou a sair às ruas. Um ex-professor cassado se vê, de repente, envelhecido física e politicamente diante da filha estudante que contesta o regime, arriscando-se a morrer baleada nas ruas.
No conto de Hermano Alves um computador vai aos poucos se tornando o verdadeiro cérebro do regime. Poderia ser interpretado como uma sátira da tecnocratização do sistema, como também da supra-sumidade da informação secreta e, ainda, do controle do país pelos grupos vitoriosos em 1964. Uma narrativa de suspense ou ficção científica, na aparência.
Os contos de Carlos Heitor Cony e Sérgio Porto conduzem uma intensa carga humorística e satírica, não limitados a períodos específicos da História. No conto de Cony é motivo de riso uma figura típica do regime – um oficial das forças armadas. Como nas narrativas de Marques Rebelo e Hermano Alves, o protagonista é pessoa instalada no poder. O seu drama é pessoal, embora o detalhe de sua tragédia de pequeno-burguês esteja umbilicalmente ligado ao contexto social. O síndico do prédio onde mora o militar é posto na crista da crise desencadeada por uma dupla de valdevinos. E termina desmoralizado, traído pela esposa e engasgado diante da tropa para quem discursa.
A história de Stanislaw Ponte Preta é uma alegoria ferina e carregada de humor. O protagonista, como no conto de Hermano Alves, não é um ser humano – é simplesmente um elefante de circo falido. O conto não passaria de uma fabulosa história, com a tradicional estrutura de começo, meio e fim, não tivesse o animal o nome de Brasil. Ou se não tivesse as características de seu homônimo – apenas um “gigante pela própria natureza”. Entretanto, a intriga não precisaria estar situada especificamente após 1964, porque, de qualquer maneira, o Brasil sempre foi um elefante enjeitado, um instrumento de riqueza e lucro que perdeu esta condição por obra e graça dos seus usufrutuários, desde que aqui chegaram os primeiros europeus.
64 D. C. é, no mais, uma colcha de retalhos (sem querer depreciar seus autores) da História recente do Brasil. E, para o leitor que gosta de prosa de ficção e não quer perder tempo lendo maçantes compêndios de História (também sem querer depreciar os nossos historiadores), a coletânea é o melhor em matéria de Brasil pós-64.
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