Um passarinho cansou de voar e pousou num galho. Cantou uma ode à tarde e tencionou alimentar-se. Voou ao chão e defrontou uma serpente. O guizo dela agitou-se.
— Por que me olhas assim, cascavel?
O pássaro deu um saltinho para trás. Melhor não esperar resposta. Saltitou, deu pequenos voos ao redor do ofídio.
— Tu me odeias porque não sabes voar, não é? Ora, se voasses, o que seria dos pequenos seres como eu? Contenta-te com rastejar.
Cantou trecho da ode à tarde e riu.
— Também me odeias porque não sabes cantar? Eu canto porque não conheço o ódio.
Calada, a serpente mirava o passarinho. E o seduzia com os olhos. Falando e cantando, a avezinha também mirava a cobra.
E deu-se o bote.
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