Fantasiado de príncipe, o pequeno Maurício bebia goles e mais goles de cachaça. E prometia uma semana de folia. Os amigos também bebiam, riam e davam passos desequilibrados de frevo. Não havia carnaval como o de Olinda. O melhor e mais alegre carnaval do Brasil, do mundo.
A fuzarca tomava conta das ruelas do bairro Ouro Preto. Todos os rádios tocavam frevos. Meninos e meninas brincavam e pulavam junto aos esgotos descobertos. Cachorros latiam e corriam, espantados.
Apareceu um bloco de esfarrapados. E no meio dele se meteu Maurício. Sua majestosa fantasia precisava mostrar a outros curiosos. Aos turistas, aos grã-finos. Aquele povinho do Ouro Preto não sabia apreciar beleza. Uns invejosos!
E foram ficando para trás os casebres, as ruas enlameadas, os vira-latas.
Tudo se transformava. Olinda ressurgia em todo seu esplendor. Casarões coloniais, igrejas antigas, lojas e restaurantes modernos. O pequeno Maurício crescia. O carroceiro virava príncipe. E se desgarrava do bloco de esfarrapados, da grei sem rumo.
Ouviu sons de música. Parou. Quis ler o letreiro na parede. Chegou à porta. Homens e mulheres bem vestidos, roupas coloridas, sorrisos escancarados. Toalhas de pano cobriam as mesas. Garçons de branco e preto, circunspectos.
Alguns olhos se voltaram para Maurício. Uns de espanto, outros de desdém. Quem seria aquele homem? Mendigo, palhaço, louco?
— Sou o Príncipe Maurício de Nassau!
Não tardou, escorraçaram-no os garçons. Ali ele não cabia. Fosse para junto dos seus. E o empurraram para a rua.
Enfurecido, o folião esperneava e se dizia príncipe.
E logo chegaram soldados, para impor a paz e levar dali o desordeiro.
— Sou o Príncipe...
— Cala a boca, filho da puta!
E mil cacetadas prostraram para sempre o pequeno Maurício.
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