Montado num cavalo recém-domado, Átila percorria a vista pelos prados da Panônia. O animal trotava, cheio de garbo, como se quisesse dizer ao homem que também tinha dignidade.
Satisfeito com o procedimento do cavalo, Átila pôs-se a falar, carinhosamente. Dar-lhe-ia um belo nome. Que tal Huno? Não, arranjaria um nome próprio dos melhores animais. Leão, por exemplo. Sim, Leão.
O animal relinchou, como se risse, gostasse da fala do homem.
Átila prometeu outras cortesias ao cavalo. Invadiria Roma, montado nele. Destruiria o Império Romano. E lhe daria até um cognome: Leão, o Cavalo. Para distingui-lo do Papa Leão, o Grande.
De novo o animal relinchou, agora de maneira esquisita, e deu pulos, como se tivesse gostado das últimas palavras do rei.
Para sossegá-lo, Átila comprometeu-se a nomeá-lo papa. O rei do mundo cavalgaria o papa-cavalo.
Leão desembestou e livrou-se, de vez, da carga. Machucado, furioso, Átila sacou a espada e investiu o cavalo. Ia ensinar como uma animal devia tratar um rei.
Ameaçado, o cavalo ergueu as patas dianteiras e, gigantesco, atacou o pequeno homem. E relinchava e arreganhava os dentes.
Átila recuava, praguejava, desequilibrava-se. E terminou caindo num buraco.
Leão chegou à beira da cova, olhou para o homem caído e pôs-se a escavar o chão. Sim, ia jogar terra sobre Átila, enterrá-lo vivo.
Desesperado, o rei dos hunos gritava, se debatia, tentava escalar as paredes da cova. E mais terra sobre ele caía. O cavalo ria, gargalhava, feito um coveiro monstruoso. Átila, porém, salvou-se no último instante. Sacudiram-no e ele acordou.
/////