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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Exílios (Ronaldo Cagiano)



A cidade se perde em seus próprios labirintos: pelas serpentes de pedra e asfalto corre pressuroso um rio de animais metálicos.
Não há mais lugar para os homens.
Anônimos, como areia na ampulheta,
vamos em busca da utópica Pasargada,
enquanto a história nos atravessa como um raio.
A metrópole oriental,
como um ventre, espera o desconhecido e na sua intangível solidão geométrica
exilo-me nos labirintos dos bazares onde florescem catedrais de ausências.
O tempo, enxame de bactéria a nos roer, me leva a mundos que eu sonhei um dia:
De Cataguases a Isfahan
de Brasilia a Teerã,
quanto de mim vai ficando nesses caminhos
com sua orfandade de margens.

Quando contemplo
os picos nevados das montanhas Alborz
ou busco os longes caminhos de Shiraz e Burujerd
os barcos da infância
que lancei no rio Pomba rumo ao desconhecido
ressuscitam nas águas do Zuyandé
prisioneiros do vento, cativos da geografia.

(Teerã, 1/6/07)