Com seus cabelos de gelo
A noite tece a cidade
E a lava com a água-saliva
Que extrai da boca dos homens.
Por sobre as casas e as ruas
Escorre a líquida noite,
Cresce o volume dos rios,
As fontes, os chafarizes,
Faz com que aumente o tamanho
Das crianças e das vilas.
Faxina quintais e muros,
Lambe calçadas e becos,
Com sua língua esverdeada
Trabalha noites inteiras.
Por isso ao nascer o dia
A luz que bate no mundo
Dá novos tons de beleza
À cidade iluminada.
E como ainda a grande parte
Dos homens está dormindo,
A vida, nua e banhada,
Pode então tranqüilamente
Com as mãos do recém-nascido
Rearrumar os cabelos,
Penteá-los e secá-los,
E descansar o seu dia.
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