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segunda-feira, 14 de julho de 2008

Trancinha (Clauder Arcanjo)



“Nem tudo o que reluz é ouro.” (Dito popular)

Olhos de bila. Azuis. Como as águas da Pedra da Luzia. Corpo bamboleante, como os acenos das palhas da carnaúba. Cabelos longos, e negros.Estirados, lisos que nem o quê. Vontade de pôr a mão, e alisar. Para maiorbeleza, a mãe lhe fazia tranças. Longas tranças. Com pouco, o apelido nasruas:
— Lá vai Trancinha. Ai, meu Deus!... — e haja suspiros da rapaziada,pejada de hormônios, em atos impublicáveis na solidão dos quartinhos debanho.
Nicanor voltou a Licânia. Dois anos no Sul. No corpo, uma jaqueta decouro, brilhosa. Nos pés, um sapato italiano, brilhoso. Na boca, um incisivo de ouro, haja brilho.
Trancinha, que negava olhos para todos, gostou do brilhado de Nicanor. Empoucos meses, batida de olhos, apertos de mãos, beijos às escondidas, pordetrás do benjamim da Matriz... e Trancinha apareceu de bucho. Quando a notícia cortou os oitões licanienses, Nicanor já havia posto os pés no mundo. Nem rastro, nem notícia do brilharoso mancebo.
E Trancinha — os olhos rasos, fundos e sem lustro —, com a barriga grande,
a arrastar as suas tranças de melancolia pelos paralelepípedos da cidade.
— Ai, meu Deus!...

clauder@pedagogiadagestao.com.br
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