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sábado, 18 de setembro de 2010

Pele e osso: Carta ao Brasil (Tânia Du Bois)

“I

Te escrevo Brasil / com o osso / mais velho / que te sustentou.

II

Te escrevo / no olho da luz / antes da primeira / fome / com a fome / de tua boca...

VI

Te escrevo / com o berro / de qualquer coisa / com o coice / que devastou no ar /

perseguição da palavra / para tamanha / falta de vida

VIII

Te escrevo / com o couro / aninhado / na balas / com a bala / fugida / da ignorância /

com o estouro / dos miolos

IX

Te escrevo / com o sol / esvaziado sobre os ossos / com a corda / do soluço

XIV

Te escrevo / porque somos / tua própria / geografia

XV

Te escrevo / porque ardemos / nas veias / de tua / indecisão

XVI

Te escrevo / porque / já não és / um gemido / de mundo / mas o próprio / mundo /

a apalpar-se / em nós."
"Carta ao Brasil" é um poema do grande escritor Armindo Trevisan, contido no livro Em Pele e Osso. Nesse poema o poeta fabrica a pele do impossível aonde vai costurando a língua e a poesia e depois, ponto por ponto, a transforma em pele maior para ser engolido pelo mundo. Deixa o presente e o futuro na pele da liberdade. E diz que "o poeta nasce para fabricar a pele."

Em Pele e Osso, a "Carta ao Brasil" mostra todo o luxo de uma poesia que deixa o homem nu em sua polidez, na cama, nos escritos, no louvor e na luz: "Perder a pele / para o poeta / é fado / o poeta anda sem pele"

Armindo Trevisan é escritor que valoriza o neologismo sem medo de levar a ideia até o fim. É poeta do deslumbramento e da sabedoria da vida: "desencaderna livros que deixa o presente / antes do futuro".

Seus poemas são impulsivos, eróticos e um dos principais elementos desse mundo poético é o corpo. Sua inventividade verbal é a maneira como o poeta vê o futuro ao qual aspira, sempre através da grandeza da sua poesia social.

Segundo Maria T. L. Martinez, "a poesia de Armindo Trevisan é um caminho de busca da palavra e da transcendência do ser, e, às vezes, um tom de exultante canto à existência".

Dante Milano, conclui: "Louvo em Trevisan a complexidade de seu pensamento-sentimento e a capacidade de se entregar a si mesmo sem lembrar ninguém... Poeta, para mim, é aquele que faz da sua Poesia a sua Verdade."
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