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quinta-feira, 21 de abril de 2011

Coisas Engraçadas de Não se Rir VII: O Sexo Literário (Raymundo Netto)

(Bar do Gomes, J. Victtor)


Em uma roda de barzinho, dificilmente se encontra um homem sóbrio ou uma mulher que não se faça de bêbada.

Engolidos por tanto barulho e premidos por mesinhas em calçadas estreitas, amigas e amigos bebiam sem pressa a vaguear em temas diversos. Os homens, todos escritores, se não em futebóis, traziam a literatura, permitidas as digressões sobre a vida alheia. As mulheres, nenhuma escritora, quando não puxavam por sapatos, acessórios ou o filme do momento, enveredavam serenas pela seara, acreditem, do sexo.

No “Mundo Fêmeo” em que vivemos, os homens mantêm as formas tradicionais e historicamente falidas de praticar a sua extra-sexualidade — prática esta cuja cena final é a mala de roupas lançada pela esposa ao vento, onde se vê, de fora, a manga da camisa preferida acenando adeus para a ex-amada, cansada de fingir não ver as suas manias —, ao contrário, as mulheres, sensíveis e imaginosas, todos os dias renovam conceitos e os reinventam, a exercitá-los, como um comerciante, com um misto de atuação e de racionalidade.

Dentre os debates (embates?), minhas amigas esfregaram na cara, para o pasmo masculino, a figura antes desconhecida do famigerado “P.A.”. Mas o que seria tal coisa? Pois bem, o P.A. (“pênis amigo”) é o correspondente à amante masculina, a ímpia inimiga mortal da família, da moral e dos bons costumes e destruidora de lares (por vezes, já em cacos). Curiosamente, todo esse peso clássico atribuído à colega de gênero, não é outorgado ao seu igual do gênero oposto, tratado, aliás, com a mais sincera naturalidade. Assim, enquanto elas não perdoam as nossas amantes (“nossas”, modo de dizer), principalmente quando estas são-lhe jovens e magras, os seus, elas vêem como um “brinquedo”, assegurando, sem tremer-lhes a face, não ter nenhuma importância, pois usam-no apenis, digo, apenas, e afirmam, como condição essencial de uso, não ter sequer uma admiraçãozinha pela criatura que, após satisfeito o desejo — meramente físico, claro —, o enxotam como um cão (que somos). Pior: o infeliz ainda sai a sorrir, se achando, a perguntar se pode ligar de novo, carregando com ele, e dentro das calças, quiçá, o único motivo de orgulho.

Não estivéssemos suficientemente humilhados, decidiram elas fazer uma análise — precipitada, obviamente... — sobre a qualidade dos amantes letrados. E seguiram assim: O contista, um minimalista por gênero, seria um precoce. Isso, advertem, nada tem a ver com prodigiosa inteligência, mas com a surpreendente habilidade de dar por encerrada a “reunião” sem aviso prévio, e quando esta, ao menos, começou. O poeta seria aquele que se saía melhor na fama do que na cama. Dizem que ama as mulheres, todas elas, mas na hora do vamos ver, fica somente a dever, e, se duvidar, corre do batente, de súbito, a buscar no quarto algum resto de papel, um guardanapo que seja, para escrever, com os olhos marejados e a voz doce, a rima adequada: tocha, rocha, galocha... O romancista seria aquele que não resolve nem sai de cima, mesmo quando não se está acontecendo nada. Ele persevera, enrola, vai aqui e acolá e parece não ter pressa de chegar aos finalmentes. Uns, irritantes, segundo elas, têm o hábito de falar demais e terminar sempre com “... sabia?” Claro que elas sabem, mas não querem saber e terminam não sabendo mesmo! O ensaísta, o nome já diz tudo, muito sem jeito, perde-se em lucubrações desnecessárias, sendo capaz de passar a noite inteira a discorrer sobre o Kama Sutra — se duvidar em sânscrito —, alongando-se pela cultura védica e hindu até entupir-se em uísque e tombar em autogozo à cama, pegando na mão da entediada amante não amada, a dizer: “ah, que noite! que noite!” O cronista, disseram, por sua simplicidade, por não ter pressa e se ocupar de detalhes que geralmente os demais relevam, parecia-lhes o eleito “amante ideal”, o que nos aliviou da vergonha de final de noite e do incômodo indisfarçado de meus malamantes amigos, a quem dedico carinhosamente esta... CRÔNICA (graças a Deus)!
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contato: raymundo.netto@uol.com.br
blogue AlmanaCULTURA: http://raymundo-netto.blogspot.com.br
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