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quarta-feira, 6 de abril de 2011

A grande onda (Ronaldo Monte)




Dentre as mais de trinta mil obras que Katsushika Hokusai deixou, a mais conhecida é a xilogravura “A grande onda de Kanagawa”, publicada em 1830 ou 1831. Ali o artista flagra o enorme contraste entre a força inexorável da natureza e a extrema fragilidade do engenho humano. Uma onda gigantesca ameaça engolir três barcos movidos a remo. Ao longe o Monte Fuji, impassível e soberano, testemunha o embate.

O artista nasceu em Tóquio, 1760, com o nome de Tokitarō, no bairro de Katsushika. Daí o nome que adotou em 1805: Katsushika Hokusai. Mudava de nome quando mudava de estilo. Dizem que teve mais de trinta nomes em sua vida.

Definitivamente, Hokusai era um artista de vanguarda, de fazer inveja a qualquer geniosinho contemporâneo. Já em 1804, durante um festival de Tóquio, pintou com vassouras e baldes de tinta um retrato de 180 metros de um monge budista. Desafiado por um Shogun a competir com artistas mais velhos, pintou, na frente do chefe guerreiro, uma curva azul no papel, pondo para caminhar em cima dela uma galinha com os pés mergulhados em tinta vermelha. Inventou que era a paisagem de um rio com folhas vermelhas flutuando. Ganhou a competição.

Exatamente por ser obra de um gênio, “A grande onda” causa espanto a quem a vê agora, depois da tragédia que se abateu sobre a terra do artista. Ali, os homens desafiam a natureza e tudo faz crer que serão derrotados. É impossível olhar a xilogravura e não sentir a angústia que a fúria das forças naturais causa quando nos ameaça de morte. É impossível não sentir a fragilidade dos instrumentos com que desafiamos as forças da natureza.

Em todos os tempos, os barcos naufragam e os artistas nascem e morrem. O Monte Fuji permanece soberano, alheio ao sofrimento dos homens e aos movimentos das ondas.

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